SILÊNCIO DAS COISAS >> Fred Fogaça



Sobretudo em silêncio, sentados à mesa cada um disposto dê um jeito. Compartilhamos essas reticências esperando que cada outro soubesse o que fazer delas. 

Cada cacareco que ocupa canto sim, canto não, agora, perene sob a perspectiva liquida do tempo, se acotovela para estar. 

Num triz se vê como tudo existe. 

Estive me calando. Poupando minha atenção desses ruídos muitos do tempo: por coisa de dias, nada de entretenimentos passivos. 

Não o bastante, ainda são imperceptíveis os instantes do fruir. 

O que sempre me esqueço: das vezes em que estive tentando a meditação: o silêncio de consonância com as coisas – existindo tanto quanto você. Democraticamente. 

Por boa causa largo as entrelinhas: a comunhão quase plena com as coisas desdobra o tempo. Muito a perceber, muito ainda a praticar. 

Os êxitos são instantâneos – as vezes, o dia se arrasta. 

Mas o que se discorre dessa liberdade das coisas, ainda que pouco, é o que se compensa do esforço. 

Pela experiência. 

Sobretudo em silêncio.

Comentários

Jefferson "Do" disse…
Gostei dessa crônica! Caiu bem numa segunda-feira.
Zoraya Cesar disse…
"Por boa causa largo as entrelinhas". Mas elas não te largam. Estão aí, escondidas, espalhadas, insinuantes. QUE BELEZA DE TEXTO, Príncipe das Entrelinhas. Que beleza!
Cristiana Moura disse…
Delicadeza nas entrelinhas... estão aí... ;)

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