olhos azuis >>> branco
poemas em 6 atos*
ato I
às vezes
sentado na poltrona da varanda
com meus amigos inseparáveis
- a cerveja
os cds
e o cigarro -
ouço vozes que me chamam
são vozes que se misturam
voz com olhos azuis
a voz do raro sorriso
ainda outras - amigas -
também me chama
a voz do assassinado
concentro-me no que dizem
percebo que não existem imprecações nelas
apenas inúteis lamentos
ouço-as
enquanto olho para a parede
que está em minha frente
uma breve e agradável interrupção
me afasta do meu mundo
dois seres vivos - a quem também chamo de amigos -
chegam
trazendo vinho e mais cervejas
ajeitam-se em outras poltronas
em frente à parede
conversamos muito - rimos muito -
com as coisas mais rotineiras
mas a noite começa a cair lentamente
e o silêncio aumenta
agora apenas bebemos
ilustração de Ana Betsa
publicado originalmente no livro 7
*seis poemas independentes nos quais personagens e situações se entrelaçam formando o quadro de um desastre
Comentários
.
Que beleza de estilo! Que coisa mais incomum! E amei a escolha das palavras, o encadeamento, o modo como vc interrompeu o devaneio do narrador e depois, sutilmente, voltou, apenas dizendo 'o silêncio aumenta
agora apenas bebemos".
Branco, no minimo, intrigante. No mínimo, instigante.