olhos azuis >>> branco



poemas em 6 atos*

ato I

às vezes
sentado na poltrona da varanda
com meus amigos inseparáveis
- a cerveja
os cds
e o cigarro -
ouço vozes que me chamam
são vozes que se misturam
voz com olhos azuis
a voz do raro sorriso
ainda outras - amigas - 
também me chama
a voz do assassinado
concentro-me no que dizem
percebo que não existem imprecações nelas
apenas inúteis lamentos
ouço-as
enquanto olho para a parede
que está em minha frente


uma breve e agradável interrupção
me afasta do meu mundo
dois seres vivos - a quem também chamo de amigos -
chegam
trazendo vinho e mais cervejas
ajeitam-se em outras poltronas
em frente à parede
conversamos muito - rimos muito - 
com as coisas mais rotineiras
mas a noite começa a cair lentamente
e o silêncio aumenta
agora apenas bebemos


ilustração de Ana Betsa
publicado originalmente no livro 7

*seis poemas independentes nos quais personagens e situações se entrelaçam formando o quadro de um desastre


Comentários

Jotace.santos disse…
Belo poema meu amigo.
Rafa Calil disse…
Belo poema e uso das palavras. Encantada.
Carmen Lúcia disse…
Lindíssimo...
Carlos Eduardo disse…
E quantas palavras foram ditas neste silêncio. Um poema para viajar interiormente. Belo!
Antonia Mansur disse…
Estou me deliciando com cada palavra. Viajando e me colocando no lugar do autor. É um Balsamo
.
Felix Chamorro disse…
Belo poema ! Branco. Abs.
Anônimo disse…
Personagens se apresentam, cenário, peculiaridades...curioso pra saber o rumo da poesia...
Marcelinho disse…
Retrata em síntese os questionamentos da Vida, em todos seus aspectos... Uma viagem... Maravilhoso! Forte abraço!
Daniela Lara disse…
Muito bom. Faz pensar...
Anônimo disse…
Maravilha! E instiga apreciar o próximo ato...
Tereza Lima disse…
Olhos azuis,riso raro,amigos... tudo me é familiar. Amei
Claudio Mariotto disse…
E aí está o poeta, com palavras grávidas de emoções a serem reveladas!
Zoraya Cesar disse…
Pressinto uma tragédia regada a vinho e amargura, segredos inconfessáveis e terríveis.
Que beleza de estilo! Que coisa mais incomum! E amei a escolha das palavras, o encadeamento, o modo como vc interrompeu o devaneio do narrador e depois, sutilmente, voltou, apenas dizendo 'o silêncio aumenta
agora apenas bebemos".
Branco, no minimo, intrigante. No mínimo, instigante.
Mauro disse…
É no silêncio que as coisas mais importantes são ditas. Admiro o seu silêncio, cada vez mais fã do seu modo de escrever.
Albir disse…
E nossos olhos e ouvidos se voltam pra sua varanda.

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