ESCURECE SOB CINZAS >> Whisner Fraga

como prever um susto a oitocentos por hora?

os aviões esfolam um céu tumultuado de fuligens.

as cinzas aterrissam na varanda dessa cidade inquieta.

as gatas acossam libélulas incendiadas.

a menina recua diante da noite em um meio-dia consumado.

o rio também está morto há décadas, menina.

tudo está morto, falta decretarem.

alguém derrama uma água suja na jabuticabeira. a terra humosa.

pai, como é o nome do cantor que você encontrou no bar? nick.

a oitocentos por hora não há imprevistos.

o avião se afoga na poluição cinza e vermelha. e some.

uma tempestade de vaga-lumes queimados possui a varanda.

tudo está morto.

Comentários

Sandra Modesto disse…
Meio ambiente. Tudo vira cinza. Morremos e o mundo pede socorro. Só um texto me salva. Vi cenas em palavras. Parabéns, Whisner.
Vânia SKT disse…
Muito bom.
Zoraya Cesar disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Zoraya Cesar disse…
Maravilhoso e terrível, Whisner! Como vc conseguiu?? Esse final dos vagalumes me arrepiou. Imagem fortíssima, triste e bela. Nas mãos de um escritor de verdade, até a morte é poética.
Albir disse…
A distopia chegou mais cedo.

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