TRANSPARÊNCIAS >> Carla Dias >>
Quanto do mundo cabe em você?
Das vigorosas verdades às vedetes-mentiras. Do submundo da pele reverberante, arrepiando-se pela sinfonia de entusiasmos atrevidos, apesar da indiferença de quem a açula. Do desânimo inspirado pelas tardes vazias, que, de repente, é preenchido pela ousadia da ansiedade.
Quer algo mais rebelde do que sentimento a contradizer o esperado?
Quanto de vida há em você?
Ao descartar as camuflagens, despir-se da diplomacia e andar pela rua da amargura, pés nus dispostos a amaciá-la, até que reste nada da desventura que ela fomenta. Até que a maciez da tristeza teimosa se hospede no seu dentro, como se nele ela tivesse sido parida.
Quanto de liberdade você acolhe?
Apesar das correntes que você arrasta - há uma biografia! - e das frágeis esperanças a pajearem insinuantes invencionices criadas para adornar desapontamentos. Dos olhares desviados, que eram esperanças criando espaço para acontecimento, mas você nem se deu conta. Acredita que eles são insultos da realidade a lhe negarem, mais uma vez, o entendimento com o flerte.
Quanto do tempo lhe pertence?
Ainda que dedique horas a sentir caudalosa saudade de quem talvez nunca venha a reconhecê-la em ternura. É tempo esbanjado a assistir ao outro, como se ele fosse filme preferido. No entanto, seus olhos se fecham de cansaço e o que sobrevive é o contentamento escravizador de ter sido privada de si para ser preenchida pela importância do outro.
Quanto de você cabe em você?
De quando o mundo a surpreende, a vida deixa seu espírito em carne viva e a liberdade roça sua existência, enquanto o tempo, ah, o tempo sussurra em seus ouvidos que ele acabou.
carladias.com
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Comentários
Branco, às vezes, escapamos de nós mesmos e visitamos esses lugares na gente que não fazem parte da nossa rotina. Acho que é meio isso...
Albir, que o incômodo tenha trazido reflexões significativas.