SIGNIFICAÇÃO >> Carla Dias >>
Meus pensamentos não querem mal a você. Quem sabe até eles se encaixem nos seus, formando assim uma daquelas conexões improváveis, porém afortunadas.
Quer dar a eles uma chance?
Minha inspiração não se assanha com a vida porque quer ofendê-lo. Ela escorrega pelas ruas dos sentimentos. É temperamental, abusadamente libidinosa. Não é de distribuir ofensas, mas de cometer deslumbramentos.
Quer escutá-la?
Minha crença no outro é iludida diariamente. Ainda assim, não consigo ignorá-la, porque quando acontece de ela ser real – leal –, a miséria se torna algo que somos capazes de combater. Miséria da fome – de tantas fomes. Miséria da compreensão – de tantas compreensões.
Quer experimentá-la?
Minhas batalhas em nada têm a ver com a sua derrota. Não construo conquistas nos ombros dos desesperados. Quando o desespero é meu, eu o carrego até ele desistir de mim. Também acontece de eu desistir dele.
Quer compreendê-las?
Minhas palavras não se combinam a fim de desmerecê-lo. Na verdade, elas têm o hábito de se aglomerarem para verbalizar gentilezas. Claro que a minha humanidade às vezes as coloca às ordens dos delírios e dos achismos. Diante de abandonos, elas geram lamentos. Acontece de as palavras saírem do engasgo, do engodo, do infortúnio. Minhas palavras não são de uso exclusivo do melhor de mim. Mas não, elas não existem para desmerecer o outro. Elas existem para alinhar o meu dentro com o que recebo de fora. O que sinto com o que experimento.
Quer conhecê-las?
Quem sou não contradiz quem você é. Quem sou é uma construção à qual me dedico, que busco respeitar. Como não respeitaria a construção do outro? Quem sou não veio ao mundo com o intuito de se impor ao outro como ser mais importante do que ele. É parte, aprecia compartilhamento, agradece trocas, aceita aprendizado. Claro, quem sou às vezes perde as estribeiras, faz suas besteiras, porque quem sou é pessoa. No entanto, não vejo problema em novas tentativas, em repensar ideias, refletir sobre ideais, dispensar o que tenho por certo para apostar no improvável. Desculpar-me.
Quer saber de mim?
Esqueça do primeiro olhar, das fórmulas e dos arquétipos. Livre-se do desejo de definir, de resumir a partir de algumas breves e herdadas impressões. Afinal, não vim ao mundo para ser oposto, contragosto, avesso. Vim ao mundo para ser e conhecer quem também seja.
Café?
Imagem © Duy Huynh
carladias.com
baseadoempalavrasnaoditas
Comentários
Ênio
Branco... não falta café aqui!
Albir... pode vir!