REENCONTRO EM FAMÍLIA >> Cristiana Moura




Há muito não nos víamos, desde aquele tempo remoto entre minhas infância e adolescência. Ah... que abraço pleno de inefável emoção bem acompanhada de um friozinho gostoso na arborizada cidade de Vinhedo em São Paulo, estado onde cresci. 

Horas de conversa leve e profunda acompanhada por sorrateiros cochilos não planejados no alpendre da casa de meu tio Antônio. Costuramos juntos, tio Antônio e eu, fragmentos de vida com linhas produzidas por memórias do passado vivido e do outro, feito de ausências, amor e o fato de estarmos ali, inteiramente presentes e juntos naquele momento. 

Casada com irmão de meu pai, tia Tomie perguntou: 

— Cris você já vai amanhã? Eu marquei uma depilação às 10 horas da manhã, mas posso mudar de horário. 

— Vou amanhã tia, mas estou precisando fazer depilação também. 

— Vou marcar, então. 

No dia seguinte, após um farto café da manhã com um punhado de gente da família e boa prosa, fomos fazer a depilação. Chegamos ao local. Cada uma entrou em sua vez na sala da depiladora e após as sessões voltamos para casa como se já fizéssemos isso, juntas, mensalmente ao longos dos anos. Existe uma delicadeza do tempo que leva tempo e amadurecimento para aprendermos a ver e sentir. 

Conheci belas crianças, primos de segundo grau. Uma em especial me chamou atenção pela semelhança com a minha irmã Fabiana, quando criança. Bruna, minha prima quer por demais ler o Diário de Anne Frank. O citado livro não apresenta uma leitura condizente tampouco adequada para sua idade. Seus pais encontraram uma alternativa: um livro que trazia a mesma biografia contada de maneira mais leve. Ela aceitou. Fabiana falava difícil em se comparar às crianças da mesma idade e também era uma leitora insaciável. Minha irmã, como Bruna vivia interessada pelas leituras dos mais velhos ao ponto de ter lido, salvo engano aos 11 anos, escondida no banheiro, toda a coleção do inapropriado Jorge Amado. 

Este belo encontro foi chegando ao fim. Despedi-me com gosto de cura que só o deus Tempo traz e, ao mesmo tempo, de quero mais. Que a vida seja plena de bons e verdadeiros reencontros. 

Amém.

Comentários

Carla Dias disse…
Cris, seu texto me chegou feito uma oração de agradecimento aos reencontros e ao afeto que eles reverberam.

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