A CRIANÇA, A REDE E O PAI >> Paulo Meireles Barguil
O ser humano é um equilibrista: busca, ao longo da sua vida, conhecer, enfrentar e superar limites.
Na infância, desenvolvemos não somente diversas habilidades, mas também a forma como lidaremos com inúmeros desafios no futuro.
Isso não significa que aquelas e essa são imodificáveis, afinal a transitoriedade é a característica central da vida: a qualquer momento, ela pode se manifestar.
Cada aprendizado, ao mesmo tempo, nos aproxima e nos afasta do Cosmos.
Esses movimentos são, em sua maioria, inconscientes, principalmente porque costumamos ignorar o que, efetivamente, acontece(u) dentro de nós.
Um acontecimento pode, e costuma ser, interpretado de modo diverso pelas pessoas.
Além disso, um indivíduo tem a capacidade de transmutar a leitura, a degustação de um ocorrido.
A qualidade da nossa interação com o mundo está relacionada com esses complexos aprendizados.
O molde que nos tornamos pode ser um replicador de certezas ou um semeador de dúvidas.
A criança avista uma rede e vislumbra a possibilidade de se divertir.
Deitar dentro dela é trivial e oferece poucos riscos, embora costume ser agradável.
Mais interessante e incerto é se deitar perpendicularmente sobre ela e se balançar.
O pai, atento aos movimentos e às possibilidades dessa escolha, fala amorosamente:
— Cuidado com essa brincadeira.
O filho faz de conta que não ouve e continua o seu voo.
Talvez, até, tenha aumentado a velocidade.
Instantes depois, um som seco ecoa do local do folguedo.
A criança está no chão e faz cara de choro.
— Eu tive cuidado — balbucia ela enquanto se move em direção ao colo do pai para ser cuidada.
— Eu tive cuidado — balbucia ela enquanto se move em direção ao colo do pai para ser cuidada.
[Crônica dedicada ao sobrinho Benjamin, que fez 5 anos na semana passada, e ao seu pai, Evando Júnior, que me relatou o ocorrido]
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