FLIPANDO >> Sergio Geia



Reservando um espaço oceânico para a literatura na dimensão de minha vida, é óbvio que não poderia deixar de dar uma espiada em Paraty, neste julho de Flip. 

Era uma sexta-feira, mais fria pela manhã, quente ao passar das horas, luz clara que só vejo na estação mais fria do ano, céu cem por cento azul. 

Na Casa Folha, tentei encontrar um lugarzinho à janela para ouvir Ruy Castro que, acompanhado de sua esposa, a também escritora Heloísa Seixas, falavam para uma plateia imensa e interessada. 

O bacana em ouvir Ruy é que ele tem o dom de transformar suas entrevistas ou encontros como aquele em um bate-papo divertido, como se nós fôssemos seus amigos de intimidade. Pode ser um evento como a Flip, uma entrevista para o Metrópolis ou para o Bial, é sempre esse o tom, de boa prosa — só faltou o café? —, papo delicioso como um perfumado bolo de fubá, daria para ficar horas ouvindo Ruy. Abusando de sua memória prodigiosa, certamente ele nos contaria coisas sobre a bossa nova, João Gilberto, Tom Jobim, Rio de Janeiro, Ipanema, haja assunto. Mesmo apertado na janela, consegui acompanhar tudo; no fim, a cereja do bolo: cantar “Chega de Saudade” acompanhando a voz e o violão de Nara Leão. 

Estive na Flip em 2013 e, equilibrando-me nas escorregadias ruas de pedra do centro histórico, fui brincando com as imagens daquela época — Frei Betto foi a primeira pessoa que vi —, assustado com o tamanho que a festa alcançou: as ruas do centro histórico bombavam de gente; eram milhares de aficionados por literatura. 

Na livraria, onde comprei “Noite em Caracas”, da escritora venezuelana Karina Sainz Borgo, uma das convidadas da Festa, eram centenas de pessoas comprando livros, uma realidade bem díspar daquela que vivenciamos na vida real. 

Na tenda do telão, assisti ao bate-papo da mesa 9, dos escritores Ayelet Gundar-Goshen e Ayòbámi Adébáyò. Momento barraco: confesso que lá na Flip nem fiquei sabendo da briga que envolveu o editor da Companhia das Letras Luiz Schwarcz antes do início da mesa, que tinha como mediadora a sua esposa, Lilia Schwarcz. Parece que Luiz recebeu sucessivas agressões verbais de um sujeito e perdeu a cabeça; depois se desculpou. 

Almoçamos num bistrô sossegado, meio afastado da festa. Comi uma sororoca com molho de camarão, um suquinho de laranja com morango — álcool e direção não combinam. 

Show de bola a batalha Slam! Blam! Assisti ao ensaio da legenda — e como isso é bom! Havia um espanhol ótimo, Salva Soler —, adorei; a brasileira também tinha uma poesia show, a Pieta Poeta. Depois fiquei sabendo que quem ganhou foi a americana Porsha Olayiwola; a brasileira, em segundo. 

Para a minha tristeza, fui embora sem ver o Zé Celso na mesa 13, com a mediação da Camila Mota. Dizem que o Zé chegou chegando e deu um show. Teve mesa com vinho, chocalho, ciranda com a plateia e sarau. Nenhuma novidade, né?

Comentários

Analu Faria disse…
Que inveja boa desse passeio, Sergio! Bora na próxima?
sergio geia disse…
Analu, já me decidi: ano que vem pego uma pousada e fico lá todos os dias, até a xepa da Flip. Bora?
whisner disse…
O chocalho do Ailton Krekak e a leitura da Grace Passô foram o melhor dessa Flip, pra mim. Bela crônica.
sergio geia disse…
Grande Whisner, ano que vem nos encontraremos mais, pretendo seguir seu conselho e pegar uma pousadinha. Parabéns pelo canal "Acontece nos livros", show de bola, estou sempre lá.

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