SOBRE MEU NOVO FLERTE E A COMUNICAÇÃO VIRTUAL ou EU ODEIO O WATSZAPP >> Cristiana Moura


Era sexta-feira à noite, uma ansiedade gostosa daquelas que fazem cócegas no estômago. Um primeiro encontro já já. Não importa o tempo vivido tampouco nossas idades. Primeiro encontro é sempre primeiro encontro, com direito a todas as sensações conferidas como exclusivas dos adolescentes. Vestido preto, colar africano em cores vibrantes concedendo um ar estiloso ao visual quase básico. Sapato amarelo mostarda para equilibrar as cores. Eu estava quase pronta. 

Mas voltemos um pouco no tempo. Minutos antes de começar a me arrumar eu contava sobre o novo flerte e o encontro de futuro próximo à Inez. Ela está em um congresso sendo feliz em Brasília e minha contação se deu via áudios de watszapp. Eu disse que já o conhecia há algum tempo, que nos reencontramos na padaria aqui perto de casa dia desses, que ele é culto, conversa sobre arte, literatura coisa e tal, e que havia me convidado para tomar um vinho o que aconteceria naquela noite.

Quando dei-me conta, Deus do céu, eu havia enviado os áudios para ele! Um susto. O ar da respiração parecia estar preso no esôfago. Rapidamente apaguei. Ufa! Poucos instantes se passaram e recebi a uma mensagem dele também em áudio:

— Cris, você mandou um áudio pela metade e eu não entendi não. Se você encontrou seu flerte...

Nem ouvi o resto do audio e já respondi, por escrito que é para garantir:

— Eu apaguei esta mensagem e ela não foi embora! Esquece. Estou quase  pronta!

A resposta veio em mais um áudio:

— Eu não consegui entender, Cris. Está pronta para encontrar o flerte ou para encontrar-se comigo?

Faltou-me o ar. Nossa Senhora das falhas de comunicação virtual me ajude! Por trinta segundos andei dez vezes do banheiro ao quarto, do quarto ao banheiro, do banheiro ao quarto, do quarto ao banheiro. O que respondo? E quando ele pergunta "você vai se encontrar com seu flerte ou comigo", isso quer dizer que fantasiei um suposto interesse dele em mim? Responde Cristiana, responde — dizia mentalmente para mim mesma. Trinta segundos e a conclusão de ter uma escolha a fazer: ou confesso que falava dele, ou desisto do encontro.

— O audio era para uma amiga, assunto de "mulher" que mandei para você por engano. Era de você que eu falava. Estou quase pronta para sair com você! 

Escolhi a confissão. Ao chegar ao restaurante ele levantou-se para me cumprimentar com um abraço receptivo, comentou ligeiramente algo ainda sobre o áudio de envio equivocado para ele. 

— Por favor, não me deixe ainda mais constrangida.

E o assunto morreu ali. A meia luz agradável do ambiente camuflava minha face rubra. Seguiram-se boas conversas, assuntos diversos, um bom vinho seguido de uma paella sem igual. Sabem aquelas noites agradáveis e leves? Foi assim. Eu cheguei a quase esquecer o constrangimento inicial.

A noite se finda ao nos despedirmos defronte ao prédio onde moro. Eu lhe dei um beijo na boca. Ele correspondeu timidamente. Foi tudo? Ainda não sei.

Contei a história à Gabriel.

— Mãe, você deve ter apagado só para você.
— Não, meu filho. Estava lá escrito: "supprimer pour tout le monde".
— Talvez você deva colocar o celular em português.

 Smartphone bilíngue ou não, odeio o watszapp atrapalhando meu novo flerte e fazendo a mim, longe de ser uma mulher tímida, rubrar a face só em lembrar!

Comentários

Zoraya Cesar disse…
hahaha, a vida ficaria mto sem graça se não fossem nossas distrações e trapalhadas a nos deixar constrangidos. Tomara q seu flerte tenha tomado um rumo bom... apesar do whats app.
Albir disse…
Aguardo próximos capítulos.

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