GAVETAS >> Fred Fogaça
Buenos Aires, 2014.
Quero dizer uma coisa num repente, aproveitar o não dormir pra adiar o sol, pois nas horas avançadas é qu'eu me sinto livre, preferindo demais postergar quaisquer problemas apesar de, eu sei, deveria constar as últimas relevâncias, mas a plena sexta à noite não confunde problemas: semana como antro de desgraças: desgraças como forma de vida, mas quiçá, o proletariado oprime as escolhas e as classes (sociais) de vanguarda só trabalham com tradições e eu - lhes juro - nunca refleti faculdades até os dezessete, veja, já na boca de saída pro mundo cão, expelido a todo jato pra me colidir com uma série de consequências que se sustentaram até aqui, agora, sem parar, e eu sem tempo, irmão, na estica de disposição pra contemplar inquietações a - metafóricos - papel e caneta, porque sabe-se lá também que remédios há, mesmo pretendendo me livrar dessas amarras, ainda estou preso à meia-cidade apenas - denúncia do meu conto preferido - apegado demais pra deixar o ofício, longe demais de me conquistar na integridade financeira pra não me render as mundanices do horário comercial que, convenhamos, é uma guilhotina em anestesia de tudo que é criativo, uma cadeira elétrica suave na sensibilidade, minando aos poucos, apodrecendo durante a mordida e, tenho essa consciência, não há tantos precedentes, mas não há contraindicações pra ambições e - custe o que for - não vou congestionar minhas gavetas.
Comentários
Faz tanta falta suas frases próprias. Próprias de poeta, das letras ferventes no sangue, mesmo que nem tão letrado, mas sem dúvida nenhuma um doutor no conhecimento, na vida de mestre de obras. Tantas obras. Mundo cão! Putana de Judas porco! Quero ser um mico de circo!
Se por acaso não sei, pensado talvez, mas com certeza Lucio Braz Fogaça.
Bastava estar inquieto com algo e já soltava "Mundo Cão".