ELES OUVEM TIROS >> Whisner Fraga
Os fins justificam os meios, eles recitam, embrutecidos.
Eles dizem isso quando justificam que fizeram aquilo porque era o melhor para todos. Porque era o que tinha de ser feito.
O bem geral, cantarolam.
Eles defendem os meios e bebem porque gostam de se embebedar e a insônia é um preço justo para a adrenalina.
Adrenalina, eles esbravejam, deslumbrados.
O diálogo que prezam é o da bala despedaçando a carne.
Eles não estão sós.
Os fins justificam os meios, eles cacarejam, adestrados.
Eles precisam acreditar que os fins justificam os meios, porque eles não sabem se, de verdade, os fins justificam os meios.
Eles esticam o indicador como se apontassem a verdade a um sobressalto do tiro.
Eles gostam de atirar e os alvos estão cada dia mais ariscos.
Eles gostam de atirar.
Os fins justificam os meios, eles rezam, dedicados.
E os meios são frágeis, senão por que precisariam de tanta bala para serem defendidos?
Os fins estão na cabeça deles e lá são os melhores possíveis.
Os meios justificam os fins.
Eles nem sabem mais o que defendem.
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