ELES SÃO PODEROSOS >> Whisner Fraga

Tripas de parafusos, cilindros, eixos, rolamentos e engrenagens fermentam uma dissonância de combustíveis e mastigam asfaltos lambidos pelo sol, pela chuva e pelo caos.

Bocas de aço cospem o poder de bielas.

Poder injetado em nano-orifícios em mega-velocidades. As transmissões se ajeitam como podem e disseminam torques insaciáveis.

O poder rasga as artérias do tempo e alcança o espírito das cilindradas.

As cerdas do poder fazem cócegas na consciência e todos riem do diesel explodindo a carcaça da justiça e outras vezes da lógica.

Os sulcos de borracha afastam a indesejável ameaça do voo e agarram o piche como se parasitassem o sumo das coisas.

Poder é veneno que se compra aos quilos em feiras de vaidades.

A máquina sequestra a carne, matura a carne, entrega ao mundo a carne triturada, quase caldo.

Todos querem a máquina e a máquina responde e há sangue nos tubos inorgânicos, que também apodrecerão, discretamente, na poeira do ódio.

Todos querem pisar, repisar o direito alheio. Todos querem aligeirar a rotina fatigante do tédio.

O tédio deve retroalimentar as ossadas do desprezo. As tripas de metal estão entornadas no azeviche que imita o luto. Mas não é luto o que se esgueira entre as faixas de descaso.

O pé esfacelado, solitário, parece ainda procurar o acelerador.

Bocas cilíndricas e banguelas buscam o pasto dos homens.

Comentários

Zoraya Cesar disse…
As cerdas do poder fazem cócegas na consciência . Whisner, às vezes você me atordoa. Tenho de ter o cuidado de não te ler à noite. Os olhos ficam arregalados demais.
Fred Fogaça disse…
É ainda pior que esse horror escondido na forma. Gosto muito!

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