SOBRE PEQUENAS FRATURAS >> Cristiana Moura

— O que foi isso no seu pé?
— Quebrei o dedinho.
— Derrubou o peso da academia no pé?

E, ao longo da semana ouvi várias perguntas assim: Foi fazendo stand up? Foi dançando? Bem, parte dos amigos e conhecidos sabem do meu apreço por algumas atividades físicas. Um funcionário do prédio onde moro perguntou: "Foi jogando vôlei?" Vôlei? — pensei. De onde ele tirou que eu pudesse jogar vôlei? Não importa. Ao final da semana, eu tinha acumulado horas de repouso e leituras de perna para cima e a sensação de ser atlética e dinâmica aos olhos dos outros.

Priscila perguntou:
— Quem você chutou? Em poucos segundos me veio à mente uma lista significativa de pessoas que eu gostaria de ter chutado. Desde a professora do colégio de freiras em infância remota vivida em São Paulo até, até... Bem, melhor não fazer citações mais recentes. Cheguei a sentir saudades dos chutes do passado que não existiu. Fariam valer o dedo quebrado.

— Os xamânicos dizem que machucar o pé significa mudança de rota — me disse Ana. Gostei. Se assim for, que sejam bem aventuradas as novas rotas.

Das semanas de pé enfaixado ficaram duas coisas: A primeira é que a fantasia parece ser sempre melhor que a realidade. Fraturei o dedinho em uma topada na cadeira da cozinha quando ia fazer uma tapioca para o café da manhã. Nenhuma aventura. Nenhuma emoção. Alguma dor. Ninguém imaginou a realidade óbvia. Precisamos da fantasia. A segunda é que a vida vai acontecendo em claudicação, sem grandes controles. Assim é o tempo sendo vivido dia a dia feito de caminhar e caxingar em pisos irregulares e diversos.

Comentários

Boa rota nova, Cris.
Quem sabe rola até um vôlei. :)
Paulo Barguil disse…
Essas cadeiras que dançam na cozinha são realmente perigosas...
Cristiana Moura disse…
Demais da conta, Paulo. Ah, e como dançam!

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