Nesses últimos dias ando bebendo. Uma bebida amarga, às vezes doce, às vezes uma bebida que não desce; em outras, que desce macio, que faz rir, mas sempre com o mesmo poder, de bebida que bagunça coisas lá dentro. Sinto-me um estéril, ou como se álcool estivesse a me tontear, como aconteceu numa festa, foram sei lá quantas doses. De manhã, quando o silêncio se mistura à brisa fina, eu vou. No meio da tarde, quando o calor já sufoca, eu vou. À noite, quando tudo está acabando e o Pops já baixou a porta, eu vou. Quanto mais bebo dessa bebida mais dá vontade de beber. Mas ela é finita e não há outra fonte. Ela, a fonte, não existe mais. Morreu. Acordei hoje com a notícia estampada em sua rede social: o câncer na mama, metástase, insensibilidade de um médico estúpido que só soube perguntar se ela tinha grana pra custear o tratamento. E ela contando tudo em detalhes, pondo a cara à mostra, sem vergonha, forte, registrando, fotografando. Uma guerreira, eu pensei, uma guerreira que não tem
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larga a casa, abre as asas,
garbosa crisálida."
(Mariza Viana)