NO LABORATÓRIO >> Sergio Geia

“Acho conveniente eu me deitar”.

“Não esquenta, é rapidinho; cê vai ver, é dois palito”.

“Mas eu costumo me sentir mal todas as vezes que preciso extrair sangue. Eu preciso me deitar. É sério!”.

“Calma, meu jovem. Vai ser rapidinho”.

“Ai... Ai...

“Calma, que vai dar tudo certo. É uma picadinha só. De formiguinha”.

“Ai... Ai...”.

“Calma”.

“Aaaaiiiii... O que houve? Não tá encontrando?”.

“Além de tudo, meu camarada, sua veia é bailarina. A gente acha e ela salta”.

“Eu não estou me sentindo bem”.

“Calma, meu amigo! É assim mesmo. Às vezes acontece. Ela escapa. Mas a gente resolve. Me dê sua mão”.

“O quê? Minha mão? Pra quê? Você pretende tirar sangue da minha mão?”.

“Fique tranquilo. É rápido”.

“A minha vista tá escurecendo”.

“Tá quase lá. Deixa ver o outro braço. Nossa, que bração mais branco. Cadê a veia?”.

“Eu acho...”.

“Melissa! Melissa! Me ajuda aqui, Melissa! O cara desmaiou! Me ajuda!”.

“O que aconteceu?”.

“Sei lá! O cara desmaiou! Olha os óculos dele aí no chão! Os óculos!”.

“Vixe! Pisei. É tarde... Quebrou...”.

“Ah, deixa pra lá, depois a gente vê. Me ajuda”.

“Deita ele na maca! Deita ele!”.

Algum tempo depois...

“O que houve?”.

“Olá! Me chamo doutor Antônio Marcos. Está tudo bem agora. Você se sentiu mal durante a extração de sangue, teve uma queda de pressão. Desmaiou”.

“Mas eu avisei, doutor, avisei o rapaz que estava fazendo a extração que eu precisava me deitar. A pressão cai mesmo, eu preciso ficar deitado. Ele não me deu atenção!”.

“Agora já passou. Está tudo bem. Descanse um pouquinho. Fique deitado quanto quiser e quando se sentir melhor você pode ir”.

“Obrigado, doutor”.

“Qualquer coisa, peçam pra me chamar, ok?”.

Pouco tempo depois...

“Ei! Para! Para! O que é isso?!”.

“Calma, meu rapaz, você é muito agitadinho!”.

“Mas o doutor disse que eu já estava liberado”.

“Calma, isso é apenas pra você relaxar...”.

“O que você aplicou aí na minha barriga?”.

“Calma, meu jovem! Relaxa! Que menino agitado!”.

“Calma nada! Eu quero saber! Eu tenho o direito de saber. O que foi isso que você me aplicou?”.

“Tá bom! Eu falo! Mas se acalme, tá? Se acalme. Digamos que..., digamos que isso é o seu passaporte para a eternidade, he, he, he!”.

“Ei!? Ei!?”.

Ele sente alguém o cutucando.

“Gomes? Gomes?”.

“Ahn”.

“Gomes? Acorda! Acorda, Gomes!”.

“O que foi?”.

“Está tudo bem, Gomes. O doutor acabou de sair. Disse que a cirurgia foi um sucesso”.

“Ahn?”.

“Foi um sucesso, Gomes! Entendeu? A cirurgia! A cirurgia foi um sucesso!”.

“Entendi. A cirurgia... Ô meu broto, como é bom acordar e ver você... Como é bom...”.

“Nossa! O que houve?”.

“Nada. Um pesadelo. Eu acho que tive um pesadelo. Coisa horrível”.

“Pesadelo? Ah, foi por causa da anestesia, Gomes!”.

“Anestesia? Ahn, anestesia... Pode ser...”.

“Então é isso...”.

“O quê?”.

“Não, nada...”.

“Então é isso o quê, Maria?”.

“Nada, Gomes! Só o enfermeiro...”.

“O que tem o enfermeiro?”.

“Ele disse que você é muito agitadinho”.

“O quê?”.

Comentários

Anônimo disse…
rsss...essa foi muito boa, ué, parou de publicar cronicas por que? poe mais pra gente ler! abraços

Postagens mais visitadas