DIAS DE TPM >> Mariana Scherma

Mês passado eu me esqueci completamente de que tinha entrado no período mais macabro do mês e saí de casa sem a minha armadura imaginária. Trocando em miúdos, não me liguei que estava na TPM e fui pro mundo de cara lavada, sem me proteger de possíveis gracinhas e de piadas com fundo de verdade.

E eu sou uma pessoa muito dolorida na TPM, me acho culpada por tudo – das catástrofes do mundo aos probleminhas do trabalho –, me sinto a pessoa mais feia da Via Láctea (e tenho certeza de que quando passo na rua todos pensam isso ao me ver), não posso ver cachorro abandonado que começo a chorar... Enfim, choro resume bem esses dois ou três dias sinistros: eu faço todas as atividades do dia pensando na hora incrível de chegar em casa, abraçar o travesseiro e derrubar algumas lágrimas, tanto pelo caos do mundo quanto pela espinha que apareceu no queixo.

Tem também os meses em que alterno o choro com a agressividade típica de um pitbull criado sem carinho... Acho até que prefiro os meses de choro. Já tentei tudo pra aliviar os sintomas da TPM: esporte (alternado muito esporte), alimentação certinha, alimentação à base de soja, alimentação à base de chocolate, pílula, outra marca de pílula, chá calmante, calmante mesmo... Nada alivia, deve ser sina e tudo bem, já quase acostumei. O problema é que nessa fase do mês eu levo tudo a sério, muito a sério e aí vem o drama.

Se tem algo que detesto é fazer piada com fundo de verdade – eu amo uma piada, uma gracinha, mas não mexo com a autoestima de ninguém porque sei que dói quando mexem com a nossa (ainda mais na TPM). Nesse dia, estava naquele momento que antecede a enxaqueca e qualquer luz parece ferir a alma, mas segui trabalhando. Quando reclamei da dor de cabeça (que fazia até os olhos doerem), uma fulana disse ser catarata, daquele jeito, “brincando”. Na hora, entendi que ela estava me chamando de velha. Num dia normal, nem ligaria, mas naquele momento doeu. Depois, a mesma pessoa estava comendo um pacote de bolacha e eu pedi uma, ela, cheia de graça, me respondeu: “pra você não”. Doeu mais fundo. No mesmo dia, estava conversando com uma amiga e fugiu o que iria falar pra ela, a pessoa que me negou a bolacha e disse que eu tinha catarata virou e sentenciou: “hum, isso é Alzheimer”.

Tá, eu sei que é brincadeira. Mas se nas duas primeiras ela viu minha cara feia ao ser vítima de suas “graças”, por que insistir nisso? Fiz minha terceira cara de desprezo pra ela que, depois, veio me perguntar por que eu estava “nervosona”. Eu só respondi “não tô nervosona”, com aquela cara metade de pitbull criado totalmente sem carinho e metade segurando o choro. Mentalmente, eu pensei em várias piadas com fundo de verdade que poderiam ser ditas a essa pessoa. Claro que não disse nenhuma. Claro que cheguei em casa, abracei o travesseiro e chorei.

No dia seguinte, já não estava mais de TPM e me achei uma louca por ter sofrido tanto, mas a fulana das gracinhas foi pra minha lista de pessoas em quarentena por um motivo: fazer piada com a dor (ou minidor, que seja) dos outros é fácil e é falta de sensibilidade. Meu consolo é que no próximo mês dias de choro serão substituídos por dias com caras feias de pitbull bravo, quero ver mexer comigo... Ah, quero!

P.S.: vamos lá, gente, vamos tornar esse mundo melhor e pensar duas vezes antes de fazer graça às custas dos outros. Não é difícil, é só pensar “e se fosse comigo?”.

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