QUE ME PERDOEM A FALTA DE PROSA COM A POESIA >> Carla Dias >>


Quando não consigo me inspirar para escrever uma crônica, acabo sempre enfiando o pé na poesia... E as jacas que se danem. Hoje não será diferente, porque acordei mais para a poesia do que para a prosa. Em dias como este, eu me internaria em casa, um bom disco para ficar tocando o dia inteiro, uma boa janela para observar horizonte. E então, depois de horas de contemplação, daria vida a alguns poemas lançados ao mundo feito irmãos coniventes com o assalto dos sentimentos à flor da pele que decidiram me fazer companhia.

Só que a verdade é que estou no trabalho, no meu horário de almoço. A música não é de disco, mas uma coletânea de algumas das minhas preferidas sendo lançadas ao recinto pelo computador. Ella Fitzgerald está cantando Blue Skies neste momento: Blue skies / Smiling at me / Nothing but blue skies / Do I see. E me chamam no Skype para dizer que um determinado documento não foi entregue, como prometido. Prometi para até às 15h... Vai chegar.

Eu não compreendo o motivo de tanta pressa, da necessidade de que as promessas sejam atendidas antes do prazo, quando o simples fato de uma promessa ser atendida ser algo realmente importante.

Agora Nina Simone é quem dialoga com a música: Everytime we say goodbye / I die a little. Eu morro um pouco toda vez que presencio quem descarta a gentileza, quem recalca os direitos, quem quebra as pernas da educação. Só que também sei que esses são assuntos que venho martelando nas minhas crônicas, nos últimos tempos. Fazer o quê se o meu incômodo não se cala, não se enverga? Ele fica zanzando pela minha vida, em busca de um canto no qual possa descansar, até se tornar passado.

Passou.

Passou?

...

Eu sei que data é hoje... Hoje é o dia de aniversário de um amigo que morreu muito cedo, com quem toquei há alguns anos. Sei, sei... Também é dia disso que você está pensando. Lamento, pelo meu amigo e pela tragédia provocada. E lamento tanto, que não posso mais falar sobre isso. Além do mais, tenho de escrever um poema para ocupar o lugar da crônica de hoje.

Robert Plant me distraindo... Do you remember when we met / that’s the day I knew you were my pet / I wanna tell you / how much I love you. E não se enganem… Por mais desafinada que eu seja, dei um tempinho na crônica não acontecida para cantar, alto, essa música. Porque é minha hora de almoço, estou sozinha, tenho trinta e cinco minutos para voltar ao trabalho. E quer saber? Bem que eu gostaria de colocar os pés nesse sea of love sobre qual o Robert canta.

Infelizmente, vou ficar devendo o poema, meus caros. Tenho apenas vinte e nove minutos para publicar esse... Se não é crônica e nem poema, é o quê? Sei lá, mas tenho de publicar algo, então, que seja meu pedido de desculpas por não conseguir escrever nada de interessante para ocupar esse espaço do qual gosto tanto. Mas ás vezes acontece. Nós gostamos tanto, mas tanto, que nos faltam as palavras.

E ainda tenho de almoçar...

E o Dave Matthews... Eu sei, muitos de vocês já não aguentam mais me escutar falando ou ler o que escrevo sobre ele. Mas fazer o quê parte 2?. Eu gosto, e ele começou a cantar uma que eu amo: It’s out of my hands for now / I can’t just walk away / Be nice to walk away.

Vou indo, que daqui a pouco, tudo volta a funcionar como se este pedido de desculpas nunca tivesse acontecido.

Out Of My Hands - Dave Matthews & Tim Reynolds


Imagem © Daniel Baeder




Comentários

Ana González disse…
Poesia é tudo e a prosa aqui neste espaço serve de desculpa. Carla, suas reflexões e indicações de músicas e outras são inspiradoras.
Carla Dias disse…
Ana, minha cara... Que bom que você se permite inspirar pelas meu gostar :)
Beijos!

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