MATERNIDADE [Debora Bottcher]

Eu ia fazer vinte e quatro anos quando meu sobrinho nasceu — filho de um irmão seis anos mais jovem que eu. E quando eu o segurei nos braços a primeira vez (e fui a primeira da família a fazê-lo — depois da minha cunhada e irmão, claro), tive certeza de que ser mãe seria um caminho natural para mim. Três anos depois, o nascimento de minha sobrinha coroava minha convicção.

Mas eu já tinha vinte e sete anos, já tinha sido casada uma vez (fiquei viúva aos 21), e o tempo, aliado à ausência de um amor duradouro, começava a minar essa expectativa.

Toda mulher sabe o que isso significa: há um alarme interno que chamam 'relógio biológico' que, por volta dessa idade, começa a 'bater' mais apressado. Para as mulheres que sonham em ter filhos, essa precipitação interior começa a exigir rapidez exagerada na execução do feito. Isso pode transformar a vida de qualquer mulher num verdadeiro dilema. Sim, porque nessa idade muitas de nós ainda não se firmou profissionalmente, não é totalmente independente e nem sempre está num relacionamento com ares de 'felizes para sempre'. E a agonia se instala: conheci mulheres que se casaram sem amor, com o primeiro que apareceu — literalmente — porque "precisavam" ter um filho urgentemente. É uma fase complicada...

Para mim não foi diferente. Mas perto dos trinta anos eu estava às voltas com a doença terminal do meu pai e isso mudou as minhas urgências, alterou minhas prioridades, transformou minha visão de muitas coisas — inclusive da maternidade. E eu passei a olhar para essa "idéia fixa", peculiar a toda mulher, com mais objetividade, sem romantismo ou ilusão. E aos trinta e três anos, apesar de estar numa relação sólida, decidi: eu não ia ter filhos.

Que ninguém pense que essa é uma decisão fácil. E fica ainda mais difícil quando você se dá conta de que, depois de enfrentar um embate consigo mesma, terá que encarar o mundo, que vai te olhar com um eterno ar de incompreensão e questionamentos velados. É como se essa escolha fosse uma falta grave, um delito, e você passa a carregar uma incômoda obrigação de se justificar. Eu já superei isso, mas foi desagradável por um tempo.

Acho a maternidade um Dom — que não é para todas, mas nem todas têm coragem de assumir. É muito mais do que um desejo, um sonho, uma realização pessoal. É uma responsabilidade imensa: um filho é para sempre e exige de uma mulher, durante toda a sua vida, dedicação e generosidade constantes, uma infinita capacidade de se doar. E sob essa ótica, a maternidade não deveria, nunca, acontecer por acaso, ser uma decisão impensada ou "moeda de barganha".

As mulheres que são Mães, por milagre natural e escolha consciente, sabem do que estou falando. Essas merecem admiração e respeito todos os dias de suas vidas — e não apenas na data comercial dedicada a elas.

Assim eu, uma mortal comum, hoje faço uma reverência e desejo que a Vida proteja sob seu manto essas Deusas Humanas.

Agora e Sempre. Amém.


Imagem: Gustav Klimt, Die Drei Lebensalter (As Três Idades da Mulher (detalhe))

Comentários

Marilza disse…
Concordo com você: a maternidade é um dom e não é pra todas. Só que nuitas não têm coragem de assumir por conta das cobranças, mais externas que internas.
Belo texto.
albir disse…
Emocionante, Debora, a sua homenagem.
Que belo relato, Debora! Quanta serenidade!
Ana disse…
De, que texto lindo, e lucido! Vc de fato caminha com mta sabedoria pela estrada da maternidade... Tanta, mas tanta que poderia jurar que vc tem filhos do coracao, perdidos por ai ;) bjs!
Obrigada, queridos... Vcs são sempre gentis ao me ler... :)
Ana, bonita, esqueci de mencionar, vc sabe: tenho cinco enteados e mais duas 'cãs', ou seja, SETE filhos do coração. :)
Um beijo pra vc, super mãe, e pra todos.
Opa! Fora os netos do coração, que já são quatro! :)))
Mais beijos em todos.
Leticia Bottcher disse…
Então são oito.
porque mesmo tando longe é como uma mae pra mim também.
Te amo muito.

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