O FANTÁSTICO SHOW DOS PATOS
Felipe Holder


Quarta-feira à tarde eu estava aqui mesmo, sentado em frente ao computador, quando escutei um barulho bem alto de patos grasnando. Não dei importância. Vai ver, eram dois ou três patos que estavam desistindo de esperar pelo frio pra ir embora pro sul. Que nada...

Segundos depois, o barulho aumentou de tal forma que eu me levantei pra ver o que era. Corri para a porta da varanda e vi que o céu estava tomado por patos. Pra onde quer que eu olhasse, só via patos. O barulho, na verdade, era um grasnar coletivo alucinado de patos que estavam deixando o Canadá. Fiquei assustado. Assustado pelo que vi e também pelo frio que — a julgar pelo desespero dos patos — vai chegar logo e com toda força.

Os patos ainda estavam um pouco longe, mas percebi que eles iriam passar exatamente sobre o edifício onde moro. Fiquei na dúvida entre apreciar tudo ou arriscar pegar a máquina pra registrar o fenômeno. E me decidi pela segunda opção. Tinha que mostrar aquilo pra todo mundo!

Mas foi tudo rápido demais. Peguei a máquina, mas esqueci de tirar a tampa que protege a lente, o que me fez perder tempo. Me atrapalhei para abrir a porta da varanda e perdi mais alguns segundos. Quando finalmente me pus na varanda com a câmera na mão, os patos já passavam sobre a minha cabeça. Vou filmar! E apertei o botão. Ainda peguei uma parte emocionante do fantástico show dos patos, mas tudo não durou mais de vinte segundos. Todo contente, fui ver o vídeo que tinha acabado de fazer. Mas na câmera não tinha nada. Na pressa, não pressionei direito o botão. E as imagens que deveriam estar ali ficaram guardadas apenas na minha mente.


Procurei na internet alguma imagem que pudesse representar o que eu vi. E a melhor que eu achei foi essa montagem, retirada do site da De Zeen. Aquilo a que eu assisti não parecia ser de patos; parecia mais uma cena de filme de guerra, daquelas em que a gente vê uma quantidade enorme de aviões voando juntos, em "V", prontos pra soltar suas bombas. No caso dos patos, bem que eles devem ter soltado suas bombinhas, mas nada que uma boa lavada não resolva.

Não dá pra descrever o que eu vi. Eram muitos, muitos patos. Acho que todos os patos do Quebec estavam ali. Incroyable!

Depois do que aconteceu, voltei a pensar numa coisa que me vem à mente de vez em quando, mas que logo esqueço. Às vezes perdemos tanto tempo tentando registrar momentos interessantes e agradáveis em fotos e filmes, que deixamos de aproveitá-los como deveríamos. É verdade que as fotos e os filmes ficam guardados, em alta resolução, para olharmos quando quisermos. Mas não são a mesma coisa. Ver as coisas pelo visor da câmera, por maior que ele seja, não é a mesma coisa de olhar diretamente pra elas.

No ano que vem, certamente os patos vão voltar. O que não é certo é que eu os veja de novo indo embora. Então, desde já, tomo uma decisão: se eu tiver sorte e o fantástico show dos patos se repetir na minha frente, eu vou fazer diferente...

Ah, quer saber? Não vou fazer muito diferente, não. Vou apenas aproveitar melhor o momento. Em vez de perder tanto tempo procurando e ajeitando a câmera... serei mais rápido pra não deixar de filmar! ;)

* * *

Depois de fechar postagem, a grande surpresa: no dia seguinte os patos voltaram! E eu consegui ser rápido o suficiente pra filmar e compartilhar com vocês o fantástico show dos patos. Eles vieram em número bem menor do que no dia anterior, é verdade, mas vieram. E o registro foi feito. É melhor duzentos patos no vídeo do que dois mil voando. Ou não?



Comentários

LINCOWN disse…
Cara, que admiráveis as suas crônicas!!! Não deixa NUNCA de fazê-las, PARABENS!!!!!

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