O SEU OLHAR ME FAZ BEM >> Carla Dias >>
Acredito - leiga que sou no assunto quando se trata da sua arquitetura - que a arte de fotografar exige de seu autor a autenticidade do seu olhar e uma busca sensível pela paisagem que deseja eternizar, porque registrar na imagem as palavras que não foram ditas é das responsabilidades que interagem com as nuanças de quem somos.
Obviamente, nem tudo é sensibilidade na terra das necessidades, e muitas vezes a fotografia obedece à demanda, como todas as outras linguagens artísticas, e nos habituamos a vê-la somente na sua forma promocional: revistas, jornais, panfletos...
Mas às vezes a desnudamos, buscando a crueza que cada fotógrafo oferece a essa arte, a partir de seus conceitos, ideais, interesses. Contar uma história, através da fotografia, sem se perder no caminho, não é para todos.
Sábado passado, fui até o espaço Reserva Cultural, aqui em São Paulo, para prestigiar a exposição fotográfica de uma amiga que é das que sabem contar uma história. Há anos eu a vejo cultivando esse interesse pelas pessoas do mundo, por isso as viagens frequentes sempre prometem fotos belíssimas na volta.
O tema dessa exposição, que ficou no Reserva Cultural até ontem, também é oriundo de uma de suas viagens. Desta vez, Mônica Côrtes foi até Lusaka, capital da Zâmbia, como voluntária em um projeto de educação.
O título da exposição é “Ubuntu”, e as palavras que abriram esta crônica, explicando o siginificado do título, tratam de algo que a Mônica realmente acredita e busca.
As imagens que compõe a exposição foram colocadas à venda, a fim de se captar fundos para a escola AMSAI, localizada em Emmasdale, uma das regiões menos favorecidas de Lusaka.
Da exposição, a imagem que me pegou pela mão é justamente a que usaram para divulgar o evento. Isso porque a beleza dela está logo ali, aonde chega o olhar da menina.
A exposição pode ter deixado a capital, mas chegará à cidades do interior do estado e a outros estados do Brasil. Em 2010, ela seguira para Zâmbia, permanecendo como registro histórico do projeto.
Quando se coloca em um mesmo projeto o voluntariado, a precariedade educacional de certas regiões, enfim, qualquer tema que remeta a algum tipo de necessidade, nós pensamos logo em relatos tristes. O que a Mônica fez com essa exposição foi justamente o contrário. O que há de mais especial numa pessoa do que a sua capacidade de ser feliz sempre que possível, encarando sua realidade sem se tornar objeto da derrota?
Assim como o olhar dessa pessoa peculiar, de sentimentos tão profundos e belos, acostumada a clicar emoções e sempre se surpreendendo por elas, Lusaka se rendeu à beleza da vida. Viver também requer a aceitação de que podemos ser felizes e, então, sê-lo. E se no meio do caminho necessitamos de ajuda, que aprendamos a aceitá-la sem colocar em pauta nossa condição de ser humano e nosso direito ao respeito, à escola, à saúde, à atenção daqueles que podem nos ajudar na nossa jornada pessoal e coletiva.
Que bons ventos sempre soprem para a minha amiga. E que seu olhar seja sempre bondoso com a nossa humanidade.
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