SEM AO CERTO OU ACERTO >> Carla Dias >>
Alardearam meus sentidos: as ideias crivadas em minha cabeça-de-vento; os ideais incendiando platéia de sonhos. As mãos no bolso procurando por moedas que paguem as dívidas das culpas.
Vivendo eu esbarrei com a Logosofia.
Dizem que Logosofia é uma ciência nova, mas qual idade tem a busca pelo conhecimento sobre Deus, sobre o universo e sobre nós mesmos? Veja que não afronto a Logosofia... Estou de namoro com ela, porque não há como não desejar algo que tem, entre suas definições, “a ciência do afeto”.
Vou inaugurar uma ciência e chamá-la “nova em folha”: a ciência de pouco saber sobre e pouco se importar a respeito e tampouco querer notícias de onde. O nada é tão encantador quanto o rapaz que, silente, no seu canto de sala de estar, esparrama olhares dengosos pelo recinto e, claro, há sempre quem os pegue no ar. E o nada dura um sopro, uma piscadela, a sensação de paz reverberando dentro de nós que, segundos depois da sua passagem, já nem sabemos mais descrevê-la. E esticamos a saudade por ela durante décadas e muitas sessões de terapia com profissionais e amigos.
O nada é um milagre efêmero.
Gosto de me ocupar de quem serei um dia, mesmo ao me dar conta de que o faço há tanto tempo que me esqueci de ser quem devia no momento que era para ser e agora pareço desconjuntada. “Desconjuntada” é uma palavra que me lembra um filme sobre um cirurgião plástico que, rejeitado por uma bela mulher, decide fragmentá-la, amputando-lhe os membros. Ele crê que a privando de sua beleza, ela perceberá o quanto necessita dele. Pena que ele não compreenda que necessidade é bem diferente de amor.
O “Eu tenho um sonho...” de Martin Luther King me vem nesse agora. Eu tenho um sonho que é diferente daqueles que são platéia. Tenho um sonho que não foi definido. Começou quando comecei. Tem a biografia em cópia-carbono da minha. Pudesse dividi-lo... Mas como dividir o que não pedem? Um sonho que parece de pura benevolência às 17h58, mas às 21h33 pode se tornar pragmático. Um sonho com nuances. E nonsense.
Ontem foi aniversário de morte de John Lennon. Hoje é aniversário de morte de Clarice Lispector. Já comemorei aniversário de morte de afetos fazendo lista de desejos para se apreciar em vida. Quero ser cremada, não enterrada. Quero ser lançada e sair a passeio com o vento.
Hoje acordei nesse frenesi que nem sei... Alguém sabe? Poderia sair por aí a somar números das casas, carros nas ruas, pessoas na calçada. Somar é o tipo de coisa que faço quando estou em frenesi. E se a soma dá no número 7, eu me descabelo.
Número 7 é sagrado, li em algum lugar de numerologia e já dizia o sábio. História, religião ou ciência, lá está... Uma vez a porta do apartamento era 14 = 7 + 7. Era dia 21 (7 + 7 + 7) e eu fiquei por lá, a ver mar da janela. Esse dia foi de sorte, porque não me distraí com dissabores e o mar inundou minha alma.
Não sei ao certo o que quero dizer hoje. Ou se acerto ao dizê-lo.
Disseram-me que de amor não se sobrevive e eu dei graças. Seria triste sobreviver de amor, quando viver dele me parece muito mais divertido. Beber dele pode até matar a sede. Comê-lo pode ser muito mais prazeroso.
Nem sempre sobreviver é de se festejar.
Imagem: Unprofound © Jim
Vivendo eu esbarrei com a Logosofia.
Dizem que Logosofia é uma ciência nova, mas qual idade tem a busca pelo conhecimento sobre Deus, sobre o universo e sobre nós mesmos? Veja que não afronto a Logosofia... Estou de namoro com ela, porque não há como não desejar algo que tem, entre suas definições, “a ciência do afeto”.
Vou inaugurar uma ciência e chamá-la “nova em folha”: a ciência de pouco saber sobre e pouco se importar a respeito e tampouco querer notícias de onde. O nada é tão encantador quanto o rapaz que, silente, no seu canto de sala de estar, esparrama olhares dengosos pelo recinto e, claro, há sempre quem os pegue no ar. E o nada dura um sopro, uma piscadela, a sensação de paz reverberando dentro de nós que, segundos depois da sua passagem, já nem sabemos mais descrevê-la. E esticamos a saudade por ela durante décadas e muitas sessões de terapia com profissionais e amigos.
O nada é um milagre efêmero.
Gosto de me ocupar de quem serei um dia, mesmo ao me dar conta de que o faço há tanto tempo que me esqueci de ser quem devia no momento que era para ser e agora pareço desconjuntada. “Desconjuntada” é uma palavra que me lembra um filme sobre um cirurgião plástico que, rejeitado por uma bela mulher, decide fragmentá-la, amputando-lhe os membros. Ele crê que a privando de sua beleza, ela perceberá o quanto necessita dele. Pena que ele não compreenda que necessidade é bem diferente de amor.
O “Eu tenho um sonho...” de Martin Luther King me vem nesse agora. Eu tenho um sonho que é diferente daqueles que são platéia. Tenho um sonho que não foi definido. Começou quando comecei. Tem a biografia em cópia-carbono da minha. Pudesse dividi-lo... Mas como dividir o que não pedem? Um sonho que parece de pura benevolência às 17h58, mas às 21h33 pode se tornar pragmático. Um sonho com nuances. E nonsense.
Ontem foi aniversário de morte de John Lennon. Hoje é aniversário de morte de Clarice Lispector. Já comemorei aniversário de morte de afetos fazendo lista de desejos para se apreciar em vida. Quero ser cremada, não enterrada. Quero ser lançada e sair a passeio com o vento.
Hoje acordei nesse frenesi que nem sei... Alguém sabe? Poderia sair por aí a somar números das casas, carros nas ruas, pessoas na calçada. Somar é o tipo de coisa que faço quando estou em frenesi. E se a soma dá no número 7, eu me descabelo.
Número 7 é sagrado, li em algum lugar de numerologia e já dizia o sábio. História, religião ou ciência, lá está... Uma vez a porta do apartamento era 14 = 7 + 7. Era dia 21 (7 + 7 + 7) e eu fiquei por lá, a ver mar da janela. Esse dia foi de sorte, porque não me distraí com dissabores e o mar inundou minha alma.
Não sei ao certo o que quero dizer hoje. Ou se acerto ao dizê-lo.
Disseram-me que de amor não se sobrevive e eu dei graças. Seria triste sobreviver de amor, quando viver dele me parece muito mais divertido. Beber dele pode até matar a sede. Comê-lo pode ser muito mais prazeroso.
Nem sempre sobreviver é de se festejar.
Quando sobrevivo ao dia, ele me dói devagarzinho às portas do seu final. Não é um final feliz... É um final com máscara de oxigênio, sentimento adestrado, condição para o incondicional.
Sobreviver nos ensina o quanto viver é muito, mas muito mais interessante.
Imagem: Unprofound © Jim
www.carladias.com
Comentários
Vivo do amor, e não consigo ficar sem...
mas sem duvida, impossível sobreviver dele é como se fosse uma falta de ar, fome ou qualquer coisa mais que falta.
Não importa se for o amor de um filho(sempre presente), amigo ou amante...
bj
O.
eu estava procurando blogs de crônicas e encontrei pouquíssimos.
a crônica é, na minha opinião, a mais injustiçada filha da literatura. insistem em rotulá-la como "menor".
vivo do ofício de escrever este gênero. podendo, dê uma olhada no meu blog:
www.cronicasderobertolima.blogspot.com
parabéns pela iniciativa do blog.
grande abraço do
roberto.
Beijo!
Roberto... Que bom tê-lo por aqui.