ENTRE O NATAL E O ANO NOVO
>> Eduardo Loureiro Jr.


Às vezes, me sinto um dos personagens das crônicas de Kika Coutinho, principalmente quando ela divide o mundo em tipos, feito em excel e powerpoint ou em ritmos musicais.

Se a Kika estivesse escrevendo essa semana, talvez dividisse as pessoas entre aquelas que preferem o Natal e aquelas que estão mais para o Ano Novo. E eu me sentiria um personagem do primeiro tipo.

As pessoas "do Natal" preferem as reuniões em família, cada um sentado na sua cadeira, conversando miolo de pote, relembrando histórias antigas ou até mesmo contando histórias novas, feito essa que minha avó contou na noite de Natal...

Em visita a uma amiga que começou a manifestar os sintomas de Alzheimer, minha avó foi recebida de maneira muito efusiva. Sua amiga, toda animada, lhe perguntou:

— Ô Izolda, você sabe que agora já existe avião direto para o céu?

Minha avó ficou calada, pensando que se tratava de uma piada ou de uma pegadinha. A amiga continuou:

— Pois hoje mesmo peguei o tal avião e me encontrei com meu falecido marido e com minha saudosa mãe. E ainda voltei antes de escurecer.

Minha avó não soltou palavra. Pagou a história com um sorriso e a guardou para nos contar mais tarde.

Esse é o tipo de coisa que não acontece no Ano Novo, quando as pessoas, todas de pé, estão mais interessadas em vestir determinada cor, em fazer determinada contagem, em comer determinada iguaria, em beber determinado espumante e antecipar o Carnaval.

Então, nesses dias, eu prefiro continuar sentado, quieto no meu canto, mesmo que não haja ninguém contando histórias. Nessa viagem de réveillon, eu não embarco. E só desejo que meus amigos, minhas pessoas queridas, voltem antes de escurecer.


Comentários

Chef disse…
Maravilha, meu amigo. Descobri que somos do mesmo time. ;)
Elenise Evaristo disse…
Linda crônica, que a quietude do Natal, que sempre nos traz boas lembranças, e um uma certa segurança, possam estar presente todos os dias em nossos corações!
Fabio Barros disse…
Kika teria que inventar um tipo pra mim, que não jogo em nenhum dos dois times.

Não que não goste de boa conversa em família e de festa. Acontece que nessa época, a alegria e a convivência ficam meio fabricadas, não? Tudo em nome das vendas...

Um abraço!
Anotado aqui na lista das nossas coincidências, Felipe.

Amém, Elenise.

Claro que a Kika inventaria, Fábio. :) Quantos às famílias, depende. :)
kika disse…
pois estamos no mesmo time.
tanto no gosto pela escrita, quanto na preferência pelo natal..
ÒTIMA crônica!
:)
beijos
kika

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