O DIA EM QUE BLUE ANNE PRECISOU DE AJUDA 3ª parte >> Zoraya Cesar
Os amigos
A riquíssima e quase psicopata
Condessa Diana Alle D'Olblac - gostava de vinganças justiceiras e
sanguinolentas; fazia qualquer coisa pelos amigos. Aindrius O’Chimbiok, químico famoso na
Dark Web por ser capaz de criar substâncias inauditas, irrastreáveis... e mortais.
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Blue Anne tinha certeza de três
coisas: precisava encontrar Serverin cara a cara; não teria coragem de matá-lo
por suas próprias mãos; naquele jogo, não
haveria vencedores. Apenas mortos, mortos por todos os lados.
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A explosão ribombou pela garagem do
prédio, estilhaçando vidros, levantando carros, acionando os sprinklers. Ninguém
saiu ferido, nem mesmo o empresário-traficante que estava chegando em um carro
repleto de seguranças.
Os homens de Serverin levaram o alvo imediatamente para o abrigo de emergência, um bunker escondido debaixo de um mausoléu dentro de um cemitério afastado da cidade, cercado de fazendas distantes. Uma sala e um banheiro para os diversos seguranças armadas e as câmeras de segurança e uma suíte pequena para o protegido. Que, de tanto reclamar, atiçou a ira de Serverin.
- Sou pago para te proteger, filho
da puta. Mas se continuar a me encher o saco aperto sua garganta até sua língua
sair pra fora. Entendeu?
Sendo apenas humano, Serverin tinha
suas questões. Uma delas era não conseguir ficar em lugares fechados por muito
tempo. Saiu.
O dia estava quente, e o brilho do
sol contrastava indecentemente com os túmulos dos esquecidos.
Ele tinha certeza que a explosão não
fora acidente, e que a ex-namorada era a responsável. A idade é uma merda,
pensou, Blue Anne ficou relapsa.
Mas era tão divertida, inteligente,
sagaz. Bonita. E boa de cama. Faziam uma dupla imbatível, mas Serverin tinha ambições que os pruridos morais dela não aceitavam. Então, durante uma missão
conjunta, passou para o lado do alvo (um agenciador internacional de pornografia
infantil) e entregou a localização de Blue Anne – que só não morreu por um
golpe de sorte.
Foi um erro deixá-la viva. Naquele ramo não se deixam pontas soltas. Dessa vez, ele não falharia, como ela
falhara agora. Acontecia com os melhores, pensou. Menos comigo. Eu sou o
melhor. E nunca vou cometer uma falha tão canhestra como a
dela.
Ainda
estaria gostosa? Surgiu nele uma vontade, uma espécie de curiosidade mórbida, em ver como o tempo agira sobre ela.
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Serverin escapara tantas vezes do
abraço indesejado da Morte, que, diziam, devia tinha olhos nas costas. Sentiu uma presença, virou-se subitamente, a tempo de ver um vulto tentando entrar em um dos mausoléus
Ele fremiu, de antecipação e adrenalina. Pelo rádio, ordenou aos homens que não saíssem do esconderijo
e estivessem preparados. Pegou a Glock 19 - utilizada pelas forças especiais turcas – e cautelosamente foi atrás de Blue Anne. Pois era ela, sem dúvida.Mas que burra! Pensava mesmo que o
pegaria desprevenido? Deve ter decaído muito na profissão, não admira nunca
mais ter ouvido falar dela.
Ele chegou silenciosamente. Esperou Blue Anne entrar e disse: olá.
Blue Anne deu um pequeno grito de susto e se
encostou na parede, ao fundo, desarmada e olhar desamparado.
Não mais tão
magra, mas ainda bem feita de corpo, sólida, com as curvas no lugar. Colocara silicone nos
peitos? Que pobreza, debochou. Os cabelos vermelhos continuavam luzidios e ondulados, um
pouco mais curtos. Tão voluptuosa e bonita quanto ele lembrava, mas, sem
dúvida, não tinha mais o frescor da juventude, avaliou.
Serverin perdera o charme. Seu olhar era
duro, com aquela fixidez apavorante dos tubarões. O rosto refletia a devastação
causada por uma vida desregrada e tensa. Sob o efeito da tintura, seus cabelos –
agora não tão fartos e com uma incipiente coroinha diabólica - continuavam negros como
as sombras da noite. Mesmo musculoso, uma infame e indisfarçável pochete se
salientava. Serverin ainda se via como o jovem impetuoso, gostoso e
irresistível de antes. Mas todo seu corpo dizia ‘você também não está ficando
mais jovem, caro senhor’.
- Olá –
repetiu – Quando foi que você ficou tão inepta? E burra? Achou que me
enfrentaria? Eu te deixei viver, por que voltou depois de tantos anos?
Ela nada respondeu, os olhos baixos.
- Pelos velhos tempos, vou deixar você
escolher como quer morrer. Por tiro? Ou pelas minhas mãos? Lembro que você
gostava de minhas mãos. – E riu cinicamente. – Prometo que não vai doer.
- Vai sim, ela respondeu. Vai sim. - E levantou os olhos. Não parecia mais amedrontada nem desamparada.
Tranc. A porta do mausoléu se fechou atrás deles, A luz que entrava pelos vitrais iluminava o espaço de maneira fantasmagórica.
Serverin, claustrofóbico, decidiu que
terminaria logo aquela palhaçada, mas precisava abrir a porta antes – inútil;
tentou usar o rádio - mudo; o celular - sem sinal. Sentiu-se repentinamente
tonto, os pulmões ardendo. Deixou a arma cair.
– O orgulho cega a pessoa. Idiota. Eu
planejei estar com você aqui e agora. – Ela falava com alguma dificuldade, os
olhos lacrimejando
- Única
maneira de fazer você me ouvir sem arriscar levar uma bala antes. Então ouça
bem, seu calhorda, nesse momento, seu protegido e seus homens foram pelos ares. E eu vou te
ver morrer. Você falhou. Eu venci você.
Serverin tentou alcançá-la, mas as pernas estavam moles, seu corpo todo tremia, pelo esforço da respiração. Em sua cabeça aquilo não podia estar acontecendo. Era para ser simples. Questão de humilhá-la e depois dar um tiro no coração, sem delongas. Agora estava preso numa câmara mortuária, sem escape. E ele falhara em sua missão? E ia morrer? Como ela conseguiu enganar a mim, Serverin, o imbatível?
- Você também vai morrer, sua louca. Eu te
vejo no inferno – roufenhou ele.
- Não, querido. Só os traidores vão para o
inferno.
Blue Anne, encostada na parede, caindo lentamente, sua mente também devaneando, assistiu
o apagar do último brilho dos olhos de Serverin, incrédulos diante da morte.
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Abriu os olhos. Viu o céu estrelado e as
pontas das árvores. Virou lentamente a cabeça entorpecida.
Diana Alle D'Olblac limpava as mãos sujas de sangue e terra; Aindrius O’Chimbiok batia raivosamente com uma pá no chão. Conversavam animadamente, de sua maneira peculiar.
- Você é um sátiro tarado mas é the best,
Aindrius! Merece comprar aquela vila em Santorini com o pagamento desse
trabalho.
- Sou the best, mas você me obrigou a enterrar
o desgraçado, né sua cretina?
- Eu trouxe os corpos no carro. Foi uma
troca justa. Fraternidade do carro e pá, você sabe.
Blue Anne tentou se mexer, mas não conseguiu.
- Tem de esperar o efeito do gás passar! Teria
sido tão mais simples dar um tiro na cara do sujeito. Vai ficar deitada nesse
lugar horrível, pra deixar de ser ser maluca.
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Brindavam
com Bollinger Special Cuvée, cortesia da Condessa. Brindavam à amizade, à
missão que dera um término feliz a uma história infeliz (e ainda rendera um
bom dinheiro), e à satisfação pessoal. Diana teve o prazer de cortar algumas
gargantas e explodir um covil. Aindrius mostrou sua genialidade ao criar um gás
mortal e um filtro nasal imperceptível (que precisava de alguns ajustes) para que Blue Anne não morresse junto
com Serverin.
- Valeu a pena? Se arriscar a morrer só para olhar nos olhos dele e mostrar que você venceu? E ver se ele teria coragem te matar estando frente a frente?
- Sim. E eu sabia, Aindrius, que você não falharia comigo.
- Você teria conseguido sem nós, não?
- Nunca, amiga. Nunca.
Blue Anne sabia que não teria coragem de matar Serverin sem o apoio deles. E se não acabasse com o passado de uma vez, ele retornaria para cobrar o preço. Ela estaria mais velha, cansada e talvez seus amigos não estivessem mais à mão. A vida é tão cheia de surpresas.
Talvez pelo efeito da champagne, ou
porque, finalmente, depois de tantos anos seu coração estava em paz, ela
sentia-se borbulhantemente feliz.
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Todas as imagens foram feitas pela talentosíssima amiga Nadia Coldebella.
Atenção: Nessa história, quaquer semelhança com personagens reais é mera coincidência
Bollinger Special Cuvée - uma das champagnes mais caras e elegantes do mundo.
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