CAMOMILA >> Ana Raja


Garagem de prédio residencial não representa calmaria. Neste lugar, onde carros entram e saem, ocupam vagas, acontecem coisas incríveis. Alguns acontecimentos, na garagem do meu prédio vêm me tirando do sério. Na verdade, são as pessoas que frequentam o ambiente subterrâneo que me enlouquecem. Lá anda meio terra sem lei. Todos fazem o que querem.

A minha vaga é a quarta, próxima ao portão de entrada. Estaciono de ré. Imagine a cena: o portão abre, entro com o carro, avanço um pouco mais além da vaga, paro e engato a ré. Nem sempre dá para entrar de primeira, por causa do carro do vizinho estacionado em frente à minha vaga. Faço alguns ajustes para encaixar meu carro naquele que é o meu lugar. Seria ótimo se o ritual de estacionar desse certo todas às vezes, de primeira. E por que não dá? Por causa da famosa “lei da vantagem”. 

Frequentadores desse recinto costumam pegar carona no portão aberto, não para ele e sim para o vizinho. As pessoas que me conhecem sabem que o meu ponto fraco é a falta de paciência com quem desembesta no trânsito. Eu sei do perigo disso, mas é algo que me irrita espantosamente. 

A falta de educação, refletida nas manobras na garagem, é destaque constante no meu prédio. Mas há uma pessoa em especial que sabe ativar meus gatilhos. Entra junto comigo, gruda atrás, de um jeito que me impede de estacionar. Em uma das vezes, não aguentei e desci do carro para tirar satisfação: qual é o seu problema? 

A vizinha nunca se importava com o fato de eu não ter espaço para entrar na vaga - por culpa dela, que não esperava o portão fechar - para somente então acionar o controle e entrar na garagem no momento certo, no momento dela. Diante da minha pergunta, arregalou os olhos e respondeu: eu estava distraída. Então, deu ré. O espaço até o portão é curtíssimo. Assim que estacionei, ela passou a toda velocidade. Tem gente que acha ser uma afronta questionar o que está coletivamente errado e reage de maneira ainda mais equivocada.

Não é apenas esse tipo de infração que ocorre por lá. Carros param fora da vaga, na porta do elevador para descarregar compras do mercado, para esperar alguém descer de elevador. Não respeitam a velocidade recomendada, pintada no chão em letras garrafais. Mais clara e em destaque impossível.

Não pense que somente nas ruas há loucura. Quem conhece um subsolo de garagem sabe bem do que falo.

Melhor eu recorrer ao chá de camomila.

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As dores delas, primeiro livro de Ana Raja, está a venda no www.editoraurutau.com.

anaraja.com.br


Comentários

Jander Minesso disse…
Eu solidarizo com a sua dor, Ana. No subsolo do prédio onde moro existem mais colunas do que vagas. Tudo é espremido. E aí vem um lindo com a barca esportiva dele e para a dez metros da parede da vaga, obrigando o mundo a manobrar por horas porque o bonitão não sabe estacionar. Deveria ser crime inafiançável abusar da boa vontade alheia na garagem.
Nadia Coldebella disse…
Eu me solidarizo também. Não só com a vaga da garagem, mas na vida mesmo. Já reparou quanta gente tenta normalizar o absurdo? E qdo vc confronta, vira rígida e louca. Uma b**.

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