O CORPO >> Ana Raja


“A caligrafia é o corpo que se projeta para o mundo.”, Micheliny Verunsck. 

Escutei essa frase durante uma Live, e, ela segue a me acompanhar.

A escrita é o reconhecimento de si e do mundo. Além de se alimentar da criatividade, afeta a postura do corpo, seja acontecendo diante do computador ou de um caderno, em um processo mais lento e visceral. Seja qual for o meio, ela tem a capacidade de ser “corpo” chegando a lugares onde o escritor, por si só, não chegaria.

Essa frase me tombou, inquietando algo em mim. Desde que a escutei, ando dispersa e com o meu corpo pulsando diferente. Admirando a beleza que ela inspira e permitindo que ela conduza o meu escrever. 

Me sinto refém da escrita, e, ao mesmo tempo, livre diante do leitor entregue às palavras que não mais me pertencem. Meu corpo em papel e telas, visitando mentes que o convidam a participar de seus enredos. 

Acho que existem inúmeras formas de definirmos a escritura. Ela reverbera diversa em e para as nossas histórias. Para cada pessoa, um sentindo. Mas o encantamento e a urgência em preencher a folha em branco são unanimidade.

Estar nesse mundo é fazer uso da escrita para sermos. Para reivindicarmos, denunciarmos, fabularmos. É passar horas imersos em uma solidão barulhenta e chegarmos ao último parágrafo com um final feliz, ou ao gosto do escritor e de acordo com o devaneio do leitor.  


Imagem © Brigitte Werner, por Pixabay

anaraja.com.br

Comentários

Soraya Jordão disse…
O corpo que você projeta no mundo é encantado. Lindooo!
Zoraya Cesar disse…
Ana, vc tocou num ponto que tem me incomodado bastante desde que soube que, em algumas escolas dos países que consideramos bem desenvolvidos, aboliu-se a escrita à mão em detrimento da digitação no computador. Isso me apavorou! Como assim? Se até podemos inferir características da personalidade pela escrita? Se a caligrafia é uma forma de arte? Se a maneira como escrevemos é como nossa impressão digital, cada um tem a sua? E vem vc com esse belo texto a corroborar meus pensamentos e a "redespertar" meus temores de que, pouco a pouco, estamos deixando a tecnologia solapar a nossa humanidade.
Jander Minesso disse…
Menina, deu até vontade de escrever agora. Vou guardar seu texto pra ler quando a síndrome da página em branco tomar conta. Obrigado, Ana!
Albir disse…
Que beleza, Ana!
Escrever é uma experiência única.E confirtente. É um privilégio enfrentar a página em solidão até que esteja ali o que antes não estava.

Postagens mais visitadas