A INFÂNCIA EM UM GIRO >> Whisner Fraga

um filete de melancolia sangra a tarde,

a menina não sabe o dia,

segunda, quarta, domingo, está tudo igual,

por que você tem discos?,

se todas as músicas já estão no celular?,

chamo a menina à sala,

e ela estranha os abismos de antigas bruxarias,

o vinil sucumbe às bicadas da agulha,

um mundo gira em sulcos e chiados,

a menina está hipnotizada com o círculo em movimento:

é a sua infância aí, né?,

a menina não sabe o dia, mas precisa de sol,

e de gritos e de corridas,

hoje é quinta, menina,

é um dia grande,

ela concorda. e se cala.

Comentários

Zoraya Cesar disse…
Whisner, nem sei mais o que dizer pra expressar o quanto admiro e gosto dessas suas crônicas. "Um filete de melancolia sangra a tarde"... sério? é covardia já começar com uma frase matadora dessas. (nem falo mais de seus títulos...)
Sandra Modesto disse…
Whisner, Já disse que sua narrativa me comove, essa crônica ficou linda! Forte e dócil ao mesmo tempo.
Cristiana Moura disse…
Você escreve o inefável. Difícil comentar... sou suas meninas,,, deusdocéu!
Carla Dias disse…
A cada vez que você traz a sua menina, para a roda da sua literatura, é de encantar, doer e nos fazer refletir sobre nossos próprios lugares, onde guardamos o que já foi e continuará sendo, até o fim de nós. Lindo que só, Whisner.

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