MINHA SALA >> Sergio Geia


Aparelhei minha sala com tudo que me é importante. 

Enchia-a de livros, por exemplo. Não imaginei minha sala ausente deles. Está certo que muitos eu dei. Nascia uma desimportância neles para mim, não me encantavam mais. Mas mantive os preciosos, os que ainda me tocam: Philip Roth, J.M. Coetzee, Gabriel García Márquez, Cristovão Tezza, Milton Hatoum. A eles incorporei novos companheiros: Lygia Fagundes Telles, Caio Fernando Abreu, Cíntia Moscovich. E sim, obviamente que deixei grande espaço na estante para receber mais amigos — do tamanho do oceano. 

Um barzinho aqui também eu tenho. Comprei um simples nessas lojas de departamento, não sou muito dado a luxos. O suficiente para guardar alguns vinhos, um bom uísque, aguardente. Muitos são presentes carinhosos — basta descobrirem que aprecio uma boa cachacinha que logo me enchem delas, as quais acolho com enorme prazer. 

Boas recordações foram perpetuadas em fotografias. Momentos que passaram, que deixaram saudades. Montei um álbum em uma das paredes de minha sala. Certo domingo de manhã, fui à feira da barganha comprar vinis. Nem quis saber quem eram os artistas; comprei à dúzia. Fixei-os na parede branca e sobre eles, as fotos. Ficou bonita a minha parede, e iluminada, e cheia de amor. 

Dia desses encontrei espaço para certificados. Não que queira ostentá-los, mas sinto que me estimulam a seguir em frente nesta vida pesada. Um curso de crônicas com a Ivana Arruda Leite, por exemplo; uma homenagem da Editora Matarazzo; o primeiro lugar de um concurso de contos; a alusão de que pertenço a Academia Taubateana de Letras. 

Na minha sala me sinto muito bem. Enchi-a como tudo o que me traz apreço e deleite. Talvez falte alguma coisa, sempre falta. Talvez faltem amigos de carne e osso. 


Ilustração: a minha sala

Comentários

Sandra Modesto disse…
Linda sala. Gosto do tom colorido e dos livros , vinis, e esses companheiros e companheiras que nos tornam tão vivos. Um lugar inspirador. Instigante para uma crônica.
De uma notívaga maravilhada com o texto, parabéns!
sergio geia disse…
Querida Sandra, obrigado. É a minha toca, onde eu trabalho literariamente, mas também espaço de descanso, de assistir futebol, Netflix, de beber, de receber amigos de carne e osso...
sergio geia disse…
Certamente, caro Albir
Luiz Silva disse…
Por aqui não há cores. Livros na forma de ebooks e músicas, tudo na nuvem. Inclusive, muitas leituras, surgiram por conta de citações de suas crônicas.
sergio geia disse…
Querido Luiz, obrigado pelo comentário. Espero que tais citações em minhas crônicas tenham lhe proporcionado boas leituras. Grande abraço!
Zoraya Cesar disse…
Que sala linda, Sergio! Igualzinha às suas crônicas, tão cheia de significados e tão simples, tão cheia das 'pequeninas coisas" que engrandecem nossa vida. Obrigada por mostrar!
Cristiana Moura disse…
Sérgio, Sérgio, quero conhecer essa sala, essas paredes feitas mais de amor que de tijolos e cimento... e o tal vinho... ;) Que nossas salas sejam plenas do que nos faz sentido. Escrevo isto e, ao mesmo tempo, olho Miguel dormindo no sofá... beijos.
sergio geia disse…
Querida Zoraya, seus comentários sempre me alegram. Um axé para Rubem Braga, o grande mestre das pequeninas coisas. Cris, essa sala é um oásis no deserto de um ap administrado por homens. Ela aguarda a sua chegada.

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