PALADAR >> Paulo Meireles Barguil
— Nossa, que suco azedo! — foi o que disse, em voz alta, a recém ingressa bolsista de graduação numa reunião do grupo de pesquisa que coordeno.
Não, não era um trote de boas vindas.
Era, apenas, o suco feito por mim, o qual, há alguns anos, é motivo de gracejo dos estudantes.
Os ingredientes mudam, mas a quantidade de açúcar é diminuta, considerando o que eles estão acostumados a ingerir.
É sempre assim: nós degustamos o mundo a partir das nossas experiências, tenham sido elas agradáveis ou não...
Muitos desconhecem isso.
Há outros que, apesar de algumas incursões terapêuticas, preferem desdenhar desse princípio atestado pela Neurociência.
É claro que a mera concordância com esse axioma não é garantia de transformação, mas funciona como um visto para ingressar no mundo interno.
Sem ele, vagamos desolados pelo Universo...
Paladar — derivado de palato, o céu da boca — conforme o Houaiss, significa "Função sensorial que permite a percepção dos sabores pela língua e sua transmissão, através do nervo gustativo ao cérebro, onde são recebidos e analisados".
Em sentido figurado, é a "Capacidade de apreciar as qualidades e os defeitos das produções artísticas".
"Pois a boca fala do que está cheio o coração" (Mt 12, 34b).
Estamos, portanto, sempre comparando o que estamos vivendo com o nosso passado e com o que desejamos para o nosso futuro.
A degustação, a leitura, o cheiro, o tato e a audição do mundo externo são frutos dos nossos registros e da nossa disposição para modificá-los.
Algumas vezes, as pessoas, por variados motivos — medo, apego, apatia... — preferem manter acontecimentos, sentimentos negativos, apesar de eles serem identificados.
É tão triste quando alguém decide carregar o veneno interno e morrer a cada dia...
Não estou dizendo que é fácil se livrar dele, mas sem fazer essa opção é impossível!
Sábia foi a graduanda que, no final da merenda, me pediu para levar o suco para casa e colocar mais açúcar.
Já pensou se ela tivesse falado: "— Só vou beber para não estragar..."?
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