JORGE >> Cristiana Moura

Era ainda cedo da noite quando ele tentava explicar a si mesmo o que sentia. Preparou o jantar. Comeu a comida carente de sabor. Os dias estavam assim a se justapor, um depois do outro. Os sons dos carros, das buzinas, dos pássaros— tudo lhe era emudecido.

Jorge queria explicar mas não podia. Era tudo meio sem cor: as flores, os vestidos das mulheres, o cotidiano. Ora, ele já era homem de meia idade e o que vivia nos últimos dias nunca havia vivido antes. Tentava entender mas não podia, não sabia nomear o que sentia. Jorge sofria de ausência.

Abriu um vinho. Bebeu uma taça apenas, como se quisesse que o carmim seco lhe afetasse. Nada. Foi dormir sem cheiros, cores ou sons. Mal amanhecera o dia e acordou num susto, tamanho o aperto no peito. Alguns segundos sem respirar. Era uma tal dor. — Que tristeza! — pensou. E esboçou um sorriso aliviado.

Comentários

Analu Faria disse…
Gostei muito!!!
E como já vivi isso! Ufa!

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