CARÊNCIA AFETIVA >> Paulo Meireles Barguil

 
– Como se cura de carência afetiva? – indagou-me uma leitora.
 
Esclareço, inicialmente, que alma e corpo necessitam de aconchego, carinho.
 
Devido à natureza distinta de ambos, os cuidados requeridos também são específicos.
 
Nos primeiros meses de vida, o corpo precisa ser alimentado para não morrer.
 
Quanto à alma, ela é bem mais resistente e menos volúvel...
 
O que vivemos durante os primeiros anos nos marca profundamente.
 
Acredito que algumas das inscrições desagradáveis podem ser modificadas, mas para tanto é necessário conhecê-las...
 
Há outras, contudo, que são agradáveis e nos impulsionam, sendo imprescindível que as façamos companheiras da jornada!
 
Não somos apenas o resultado do que (e como) vivemos, pois o corpo e a alma são repletos de memórias de outros espaços-tempos.
 
Quando a maioria diz "Ninguém pede para nascer!", alguns sussurram o contrário...
 
A alma, moradora do Paraíso, sabia que suas férias aqui na Terra não seriam tranquilas, mas aceitou o desafio.
 
Ciente era dos percalços e das tribulações que enfrentaria...
 
Apesar de muitos declararem que "Ninguém escolhe os pais!", ela selecionou cuidadosamente quem poderia exercer essa missão...
 
Aceitou, em seguida, ser encaixada no corpo, seu escudeiro, sabendo da inconstância da sua fidelidade.
 
Esse componente biológico, hoje sabemos um pouco, é herdeiro de várias gerações: de aspectos físicos e psíquicos.
 
Além de todos esses temperos, que tornam a vida ainda mais alquímica, há o fato de que nenhum de nós recebeu dos pais o trato que alma e corpo gostariam, muito pelo contrário...
 
Essa ferida é comum a todos nós!
 
Quando, apesar dela (e, às vezes, graças a ela...), nos lembramos de quem somos e do que viemos fazer aqui, desenvolvemos, cada vez mais, gratidão e compaixão por todas as pessoas – inclusive por aquelas que, de algum modo, nos machucaram – ao mesmo tempo em que assumimos, progressivamente, a responsabilidade pela nossa saúde, por nosso bem estar, que são frutos das nossas escolhas.
 
Entender e aceitar tais aspectos é imprescindível para que alma e corpo diminuam sua carência, relacionada à dependência do outro (que precisa pagar uma dívida infindável de outrem...), e iniciem sua cura, que se expressa no auto-cuidado.

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