AI, MEU CORAÇÃO! - II >> Albir José Inácio da Silva
AI, MEU CORAÇÃO! - I
(Continuação de 26/12/16 - O novo presidente do Grêmio Recreativo Tarietense é assassinado assim que tem acesso às contas e contratos da administração anterior, os demais componentes da diretoria eleita se recusam a tomar posse, e o antigo presidente faz discurso de candidato:)
(Continuação de 26/12/16 - O novo presidente do Grêmio Recreativo Tarietense é assassinado assim que tem acesso às contas e contratos da administração anterior, os demais componentes da diretoria eleita se recusam a tomar posse, e o antigo presidente faz discurso de candidato:)
- Uma boa gestão é a melhor
maneira de homenagear o presidente assassinado. O Tarietense não se furtará às
suas responsabilidades e continuará encantando a vida da cidade – disse Bóssi,
já em franca campanha.
O DELEGADO
Concluídos os trabalhos na cena
do crime, o Dr. Mouro foi pra delegacia com suas anotações instaurar o
inquérito policial. Antes intimou Bóssi, mera formalidade, já conhecia a
história toda. E Bóssi estava acima de qualquer suspeita. Era seu parceiro em
contratos com a prefeitura e outros empreendimentos, apoiador de sua
candidatura a prefeito de Tarietá e compadre. A derrota de Bóssi o deixou
preocupado.
Desde candidato que Arakém
ameaçava vasculhar as contas do clube. Isso podia mexer com coisas muito
incômodas pro Bóssi, pra administração municipal e pra muito figurão da cidade,
incluindo ele, delegado. Mas o susto passou, os documentos estavam de novo em
mãos confiáveis.
Embora lamentando a morte de uma
pessoa – sempre lamentável sob todos os aspectos, sabia que Bóssi era o melhor
para o clube. Bastava olhar o que era o Tarietense antes de Bóssi e o que se
transformou depois.
O aumento das mensalidades e o
controle rígido na portaria mudou o perfil dos frequentadores, dos atletas, dos
bailes e desfiles de carnaval. Ali se reunia de novo a sociedade tairetense.
Não mais desdentados e pés-de-chinelo,
só mensalidade em dia e trajes adequados.
O Dr. Mouro lembrou que Bóssi
sempre conduziu com mãos de ferro aquele clube. Há quinze anos ninguém
conseguia vencer as eleições e, de uns anos para cá, ninguém ousava se
candidatar.
Não que concordasse com tudo na
gestão de Bóssi. Aquele seu vice, Neném, por exemplo, lhe dava engulhos.
Sujeitinho medíocre, covarde, nervoso e indigno de confiança. Sempre pediu a
Bóssi que o deixasse fora dos assuntos mais sérios. Mas sabe que isso não
acontecia, o compadre confiava nele e dizia que pessoas de confiança são difíceis
de encontrar. Pelo menos, até o momento, ele parecia controlar o estrupício, e tudo
ia bem.
Até que surgiu esse Arakém, de
uma família de encrenqueiros esquerdistas da capital, e começou a fazer
perguntas impertinentes, a andar com estatutos de outros clubes nas mãos e a
colocar caraminholas na cabeça de um povo pacífico e ordeiro.
Avisou ao Bóssi para não permitir alterações
no estatuto. Arakém e seus já agora correligionários queriam regulamentar a
propaganda e o apoio dos empresários, garantir igualdade das chapas e
fiscalização externa das eleições.
Não se mexe em time que está
ganhando! Por acaso o Tarietense estava precisando de alguma mudança? Não
funcionava bem assim há tantos anos? Mas Bóssi fez concessões, quis agradar,
foi fraco, frouxo. Excesso de confiança.
Deu no que deu. Mexeu-se no
estatuto, Arakém e sua gente foram pras
ruas, praças, andaram de casa em casa, pediram liminar garantindo voto de
inadimplentes, trouxeram gente de fora pra contar os votos. E ganharam.
Bem, mas um “acidente” – como diz
um certo jurista - veio resolver o que poderia ser outra tragédia. Deus escreve
certo por linhas tortas.
Minutos depois do delegado, Bóssi
chegou à Delegacia na condição de testemunha, , distribuindo sorrisos e
cumprimentos. Era amigo da polícia. Contou sua versão sem interrupções. No
momento mais dramático da narrativa não pôde evitar as lágrimas. O delegado
ouviu compassivo e ditou para o escrivão:
(Continua em 15 dias)
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