MÁGUINO - final >> Albir José Inácio da Silva

MÁGUINO I 

MÁGUINO II 

MÁGUINO III 


(Continuação de 14/11/2016 – Feliz com o convite dos ex-patrões, que poderia dar o impulso que faltava aos seus empreendimentos, Máguino se envolveu em negócios fraudulentos e foi preso pela polícia federal. Abandonado na cadeia pelos empresários, só lhe restava a sofrida companheira). 

O telefone foi desligado do outro lado da linha, a solidão desceu sobre o nosso empreendedor, e ele pensou na sua Jacira.

Tinha gritado com a Jacira quando ela mencionou a possibilidade de ele estar sendo envolvido em alguma trama. Ela não conhecia gente como os Labac, estava acostumada a lidar com  trambiqueiros da comunidade.

- Tem gente que não precisa ser desonesta, Jacira. Entenda isto! – tinha dito.

Mas agora só tinha ela. Não que concordasse com suas desconfianças. Entendia que os Labac não podiam ter seu nome em manchetes policiais. Se nesse primeiro momento não queriam se envolver, era porque tinham de se preservar a empresa. Devem ter sido enganados também, é assim o mundo dos negócios. Lobo comendo lobo. Só os fortes sobrevivem.

E ele ia sobreviver. Estava orgulhoso da pressão que fez nos Labac, dizendo que iria contar a verdade ao delegado. Isso apressaria as providências e a solução. Não era mais aquele empregado que abaixava a cabeça e dizia sim senhor. Queria que soubessem com quem estavam tratando.

Mais uma vez contou com a generosidade, agora desiludida, de Pedrada – depois falam mal da polícia! Mais um telefonema.

Jacira era mulher prática, de poucos sonhos, que aprendeu a sobreviver, desconfiar e a fazer o que precisava. Aquele marido não era grande coisa, mas era o que tinha.  Quando recebeu a ligação chorosa, saiu como estava, de chinelos, pano na cabeça e roupa de trabalho.

Pedrada, acostumado aos escândalos por causa de maridos na delegacia, não permitiu que Jacira passasse da porta. Era só o que faltava! O fato de ter pena daquele “bucha” não significava permitir alterações na rotina do seu ambiente de trabalho. Visitas só na quinta-feira. Mas, disse que ela procurasse ajuda, a Defensoria Pública, porque seu marido estava enrolado. Os ex-patrões negaram saber do que se tratava e, pelo jeito, ele ia segurar sozinho. Nada provava o envolvimento dos Labac, nem cheques, nem depósitos. Nem sequer telefonemas ou mensagens. Se havia algum principiante ali era o Máguino.

Jacira e suas lágrimas voltaram para a comunidade, encontrando na subida algumas companheiras de infortúnio, marido preso, mas por razões mais graves e menos idiotas. Acostumadas a esses contratempos jurídico-policiais, foram elas que sugeriram acompanhar Jacira numa visita aos Labac, já que na delegacia – adiantaram - não se consegue nada.

Na sede da empresa, Jacira não teve dificuldades em passar pela portaria, identificando-se como esposa do Máguino, conhecido agora por ser o queridinho dos patrões. Estava ela sendo barrada pela secretária que já se dispunha a chamar a segurança, quando um displicente Dr. Pedro voltou do almoço.

- Máguino está na cadeia. E vocês têm que fazer alguma coisa!

- Minha senhora, não podemos ficar resolvendo problemas de ex-funcionários com a justiça. Já dissemos isso ao Máguino.

Mesmo com a janela fechada por causa do ar condicionado, o som da passeata se fez ouvir:

- LI-BER-DA-DE PA-RA MÁ-GUI-NO! LI-BER-DA-DE PA-RA MÁ-GUI-NO!

Um Dr. Simão assustado apareceu na porta do gabinete para perguntar o que era aquilo. Jacira sabia.

Correram pra janela, e um alto-falante fanho repetia palavras de ordem. Mas tudo pode piorar e piorou. Duas câmeras de TV enormes e antiquadas chegaram acompanhadas de entrevistadores com microfones de cabos grossos ligados a baterias. Trânsito parado. Buzinas.

Jacira foi instalada na sala do Dr. Simão em um sofá tão macio que ela teve medo de cair. Água e cafezinho foram servidos. Os irmãos procuravam as palavras. Jacira só esperava a pergunta pra despejar suas verdades. Mas não perguntaram nada. Só pediram, terminado o café, que ela aguardasse com a secretária.

Começaram ligando pra delegacia, e um Pedrada descrente até dos poderosos disse que o delegado estava em Mangaratiba, e que não ia ser fácil de resolver porque a federal estava no meio. Por mais de uma hora Jacira assistiu à secretária fazendo e passando ligações em ritmo frenético.

Orientados pelo zap de Jacira, os manifestantes aguardavam na calçada, comendo biscoitos e conversando tranquilamente. Nem parecia a mesma turba.

- Pronto, Dona Jacira! – disse Dr. Simão quando ela voltou à sala. – Cumprimos o nosso dever. Máguino foi ótimo funcionário e será sempre um amigo desta empresa. Leve o meu cartão, e pode buscar o seu marido na delegacia.

Dr. Pedro, na janela, ficou intrigado com os câmeras e repórteres que na calçada confraternizavam com os manifestantes.

- Que emissoras são essas, Dona Jacira? Vocês que chamaram?

- Emissora nenhuma não, Dr. Pedro. Isso é material velho do curso de cinema lá da comunidade. O pessoal veio dar uma força.

Antes de ir à delegacia, Jacira colocou vestido novo, bijuterias e fez escova. Pedrada nem a reconheceu. Máguino já tinha sido retirado da cela e aguardava dignamente sentado na sala de espera.

Ao receber o cartão das mãos daquela mulher elegante, Pedrada perguntou obsequioso e sorridente:

- A senhora é secretária do Dr. Simão Labac?


- Não! Sou esposa do Dr. Máguino Babac!

Comentários

Zoraya disse…
Afe! Finalmente! já estava angustiada kkk. ótimo final, Albir. e a gente vê que vc sentiu pena do iludido Máguino, deu-lhe até um final relativamente feliz. Gostei imensamente da Jacira! Personagem interessantíssima! Foi tudo tão bóm q vc está até perdoado por ter-nos feito esperar! Beijos

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