PROTEÇÃO E CRESCIMENTO: DO CONTROLE À ENTREGA >> Paulo Meireles Barguil


Bruce Lipton, em Biologia da Crença, explica que a célula tem dois movimentos principais: proteção e crescimento.
 
No primeiro, ela foge de tudo que acredita ameaçar sua existência. No segundo, ela vai ao encontro do que julga propiciar a continuidade da sua vida.
 
Conforme esse biólogo, esses mecanismos não podem funcionar ao mesmo tempo. Em determinado momento, portanto, a energia da célula só pode ser direcionada ou para se defender ou para crescer.
 
Por ser o Homem composto de trilhões de células, Lipton defende que esse princípio também acontece em nós.
 
Diante de um mundo repleto de mistérios, é natural que o Homem tenha medo, o qual, em doses moderadas, contribui para que ele reflita sobre os diversos aspectos da realidade e objetive tornar a sua existência mais segura e satisfatória.
 
De modo simplificado, as crenças são frutos de experiências — nossas e/ou de outras pessoas — as quais geram sentimentos e pensamentos.
 
O centro da nossa existência são os sentimentos. É a partir deles que escolhemos as atividades que irão, quase sempre, confirmá-los.
 
As nossas emoções desagradáveis são, basicamente, medo, vergonha, raiva e tristeza. Enquanto as agradáveis são, respectivamente, coragem, segurança, amor e alegria.
 
O controle é a atitude de alguém que tem sua vida guiada pelas emoções desagradáveis.
 
A entrega é o comportamento de quem se orienta pelas emoções agradáveis, a qual não pode ser confundida com submissão e rendição, mas como aceitação e gratidão de tudo que a vida lhe oferece, potencializando a sua ação no mundo com foco no outro e não na sua satisfação pessoal.
 
Quando alguém sente — leia-se, acredita — que um ambiente, um acontecimento, um indivíduo é hostil, sua energia é prioritariamente alocada para a sua segurança.
 
Penso que, de modo geral, uma pessoa ansiosa é medrosa, insegura. Ela não acredita que é capaz de resolver, da forma possível, as situações que poderão aparecer — ou seja, não confia em si e, consequentemente, nas outras pessoas, bem como no poder do Amor — por isso tenta, inutilmente e compulsivamente, controlar o mundo, que, na sua fantasia, existe para atender os seus caprichos.
 
Qualquer sombra, cheiro ou som diferente que, de alguma forma, lembre algo que tenha gerado frutos desagradáveis no passado, pode acionar o seu instinto de lutar ou fugir, propiciando-lhe, se optar pela segunda, se afastar rapidamente do suposto perigo.

Após cada ocorrência, seu temor aumenta e confirma a sua crença de que ela precisa realmente estar sempre alerta. Suas sensibilidade e resposta — corporal e verbal — tornam-se cada vez mais rápidas!
 
Não é difícil imaginar o resultado disso após alguns anos...

Outra possibilidade de uma pessoa ansiosa é alguém que deseja muito vivenciar algo e que, por vários motivos, ainda não aprendeu a esperar, o que não significa que ela nada pode fazer, mas que precisa compreender que o mundo não funciona no ritmo do nosso desejo.

A nossa interpretação do mundo, que se expressa em ações e discursos, tende a confirmar as nossas emoções, as quais não podem ser extirpadas, apenas transmutadas, se forem identificadas, num processo lento e fascinante.
 
Creio, contudo, que os nossos sentimentos podem ser sufocados ou negados, mas continuam dirigindo a nossa vida...
 
As consequências dessa repressão são nefastas, pois só ampliam a ebulição desse caldeirão!
 
O aumento exponencial, em todo o mundo, das doenças de natureza psicológica confirmam o equívoco e o perigo dessa atitude.
 
O medo, portanto, impulsiona a pessoa a, de um lado, querer controlar, vigiar tudo que lhe cerca, e, do outro, a se isolar.
 
Essa afirmação, caso proceda, não é suficiente para mudar quem deseja, pois a dinâmica entre ação, sentimento e pensamento é muito poderosa e sutil, conforme atestam as descobertas das últimas décadas quanto à composição química do Homem, que revelam, aos poucos, o intrincado funcionamento das glândulas e o impacto de seus respectivos hormônios na qualidade da vida dele.
 
É importante compreender e aceitar que os aspectos motores, afetivos, cognitivos e espirituais são intimamente relacionados.
 
O desafio, portanto, de cada um de nós é, a cada segundo, migrar da hostilidade à hospitalidade!

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