NOVAS MANIAS >> Clara Braga

Me peguei com uma nova pequena mania, as vezes fico imaginando a história de vida das pessoas que passam por mim. Imagino o que levam elas a fazerem o que fazem e a serem como são. 

Acho que comecei com isso depois que passei a trabalhar dando aulas para adolescentes. Alguns deles podem ser bem difíceis, as vezes dá uma leve vontade de desistir deles, assim como na vida a gente tem vontade e as vezes até desiste de algumas pessoas.

Então chega o momento do conselho de classe, que você compartilha os casos com outros professores e coordenadores, e então vai entendendo as histórias por trás de cada atitude. É cada coisa que se ouve que os sentimentos gerados são os mais variados, tem hora que você fica com raiva e quer bater na pessoa, tem momentos que você se pergunta o motivo das pessoas terem que passar por certas situações, e outros momentos que você já se questiona porque aquela outra pessoa não passa por algumas situações.

Daí eu comecei a imaginar a história de um monte de desconhecidos, afinal, atitudes e pessoas tão diferentes só podem mesmo ter histórias extremamente diferentes! Comecei a reparar que em 24h consigo passar por pessoas com os mais variados humores, da pessoa que só responde o bom dia com um pequeno sorriso, ao cara que me dá uma fechada no trânsito conscientemente e não pede desculpas, aliás, nem se mostra arrependido do que fez. Até a mulher que mora no primeiro andar e me pede desculpas por estar subindo de elevador e, assim, fazendo com que eu não consiga chegar antes em casa pois vou ter que esperar ela descer no andar dela sendo que ela poderia ter subido de escadas.

Se eu fosse imaginar o dia ou a história dessas pessoas, pensaria na pessoa do sorriso como uma pessoa tímida, retraída, sem muitos amigos e bem caseira. O cara do carro seria um marrento mau humorado, se acha o dono da rua, o rei do camarote, só por ter um carro grande acha que pode entrar na frente de todo mundo. No mínimo tem um ego enorme e também acha que pode passar por cima das pessoas. Já a mulher do elevador seria uma fofa, cheia de amigos, teria uma família linda, uma vida super tranquila e estável.

Bom, mas a verdade é que a realidade tem se mostrado muito diferente. Seria impossível definir o que de fato faz uma pessoa ser como ela é. Hoje já não me surpreenderia se essa mulher do elevador fosse uma pessoa com uma vida super difícil, solitária, que tem dificuldades de conviver em sociedade, assim como não me surpreende descobrir que o aluno que senta no fundo e dorme toda aula não é um preguiçoso, só está tendo que lidar com problemas que nós nunca teremos que passar e está de fato cansado, mas quando ele estudar para a prova, vai se sair muito melhor do que muito aluno que senta na primeira fileira e repete todas as palavras do professor. Também não seria estranho descobrir que o cara do carro é um doce de pessoa, que odeia pessoas que dão fechadas nas outras no trânsito, mas ele não estava em um dia legal e acabou agindo de forma imprudente.

As pessoas são muito mais do que os clichês que já esperamos, o problema é que já não temos mais o tal do tempo para de fato conhecermos as pessoas como elas merecem. Se parássemos para observar, veríamos que toda vida daria um filme, cada um de um gênero diferente. E claro, de uns vamos gostar, e de outros vamos detestar, mas da mesma forma que não podemos julgar um livro pela capa, não podemos dizer que não gostamos de certas pessoas só porque não gostamos de comédia romântica, se é que você me entende.

Depois que comecei com essa nova mania, fiquei me questionando o motivo pelo qual sempre colocamos as pessoas em caixinhas pré definidas se podemos todo dia ganhar novas caixinhas de surpresas! 

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