UMA LIÇÃO DE VIDA >> Clara Braga

Querem saber um assunto que dá pano para manga? É esse tal de amor. Difícil achar quem nunca tenha escrito, falado, pensado ou qualquer coisa do tipo em relação ao amor. Aliás, difícil não, impossível.

Engraçado é perceber que isso acontece por um motivo muito curioso. O homem faz de tudo para entender aquilo que para ele ainda é muito abstrato ou incontrolável. Hoje em dia temos a impressão, só impressão mesmo, de que conseguimos controlar muitas coisas, mas o amor é uma das coisas que não se consegue controlar, e isso parece ser incômodo para muitos.

Não sou entendida no assunto e também não vou tentar definir nada, mas não gosto quando me deparo com textos que tentam generalizar o amor. Essa história de amor eterno depois de todo casamento não cola faz tempo. E essa conversa de que toda mãe tem um amor incondicional pelos filhos para mim também não desce. Se fosse realmente assim, não tinha um monte de mãe jogando filho em lixeiras, bueiros e afins.

Gosto de livros e textos que mostram o amor como esse sentimento que, apesar de confundir a gente e parecer muito complicado, se mostra simples em algum momento e só é eterno até onde for para ser. E exatamente por isso que gostaria de compartilhar aqui meu novo achado. Um livro maravilhoso que mostra um amor sincero, com seus problemas, dificuldades, dúvidas, mas de uma beleza maravilhosa.

O livro se chama Para Francisco, de Cristiana Guerra. O livro são cartas que ela escreve para o filho Francisco, quando ele ainda é pequeno, contando para ele quem foi o pai dele. O pai, marido de Cristiana, faleceu durante a gravidez e ela teve que viver ao mesmo tempo uma das maiores alegrias da vida dela, que era estar gerando um filho, e uma das maiores perdas.

Ela escreve todas as memórias, todos os momentos, inclusive os momentos nos quais ela e o marido decidiram não estar juntos por um tempo, os momentos em que não se entendiam, pois isso também faz parte. Ela escreve com urgência, pois, como ela mesma diz, "os fatos mudam à medida que nos afastamos deles". Ela quer que seu filho possa, quando crescer, ler essas cartas e ganhar de presente o pai que ele não pode conhecer. Quer ato de amor mais bonito? Amor por todos eles, amor pelo filho que não pode conhecer o pai, amor tão grande que a faz viver toda a história novamente, sofrer novamente, para que seu filho saiba quem foi seu pai da melhor forma possível. Amor pelo marido, amor também tão grande que não a permite viver sabendo que alguém especial para ela possa viver sem ter a oportunidade de se apaixonar por seu pai, mesmo que seja só pelos olhos dela.

Considero o livro uma verdadeira lição de vida, e para aqueles que, assim como eu, já perderam alguém querido, aprendi que as pessoas não se vão simplesmente, elas se dividem em várias lembranças e passam a fazer parte daqueles que guardam essas lembranças.

Comentários

Clara, eu já tinha ouvido falar do livro. Agora deu vontade de ler. :)
Anônimo disse…
Clara gostei da maneira como escreve, das lições que aprendeu no livro e como transmitiu, parabéns.

Pode ter certeza que voltarei para ler mais crônicas suas.

Eu tenho um blog, não escrevo tão bem quanto você mas estou aprendendo.
Se der passa e deixa um recadinho lá.

http://vasoscheios.blogspot.com/

abraços.
Unknown disse…
Clara, também me apaixonei pelo livro e fiquei ainda mais impressionada quando conheci a Cris. Uma figura miudinha, de fala delicadinha. Um contraste com essa fortaleza toda.
Bjos!

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