OLHA AS CRIANÇAS AÍ NA SALA
>> Felipe Peixoto Braga Netto


Que pão de queijo é coisa de mineiro, todos sabem. O que talvez nem todos saibam é que um dos melhores do mundo fica numa minúscula casinha perto de onde trabalho. Descobri à toa, e agora, em certas tardes, secretamente fujo do mundo e me refugio lá. Peço um café, que vem num modesto copo de vidro, e, cheio de más intenções, peço também um pão de queijo, esse aqui, ó, o mais branquinho. Depois repito o pedido alguma ou algumas vezes. Precisa mais para ser feliz?

Porque pão de queijo bão é esse, de padaria ou casa honrada. Nada com muita frescura. Não se pode confundir frescor com frescura. Aqui o café vem no copo, naqueles copos bem simples mesmo, grossos e gordinhos, de tomar cerveja, sabe?

Há pães de queijo e pães de queijo. Uns com honrosas maiúsculas, outros bem safados. O leitor vá comendo e tire as próprias conclusões. Aconselho o óbvio: que seja novinho, que haja um café bem quente por perto e, se possível, que a conversa seja boa. Não sei se é pedir muito, mas se houver um fogão a lenha nas proximidades, e umas montanhas fazendo ambiente, aí sim, tudo estará perfeito.

O senhor se incomodaria, excelentíssimo pão de queijo, se eu o elogiasse um pouquinho mais? Não? Posso mesmo? Então lá vai: pão de queijo é coisa sublime. Prova da superioridade de Minas sobre o resto do mundo. Eu sei que o resto do mundo vai reclamar, mas... Paciência. Eu tenho muita preguiça do resto do mundo. Se quiserem me atacar, ataquem, mas posso pedir um favor? Ataquem aqui, em domicílio, porque a vista compensa.

Se quiserem insistir na guerra, insistam. Saberei me defender. Em defesa do pão de queijo, tudo farei: revoluções, inconfidências, conspirações... Aliás, acho até que os livros de história trazem informações levemente imprecisas. A tal da Inconfidência Mineira não teve nada a ver com tributos, não. Foi o pão de queijo que os portugueses queriam levar. Pesquisem melhor, estudiosos do tempo, e vão ver que tenho razão.

Eu acho melhor ir embora que essa conversa vai ficando boba. Que ideia elogiar pão de queijo! Quem gosta, gosta, quem não gosta, não gosta, e o mundo não parará de girar por isso. Há loucos de todas as cores – haverá, portanto, uns do tipo que não suporta nem ouvir falar de pão de queijo. Que se há de fazer?

Ouço uma perguntinha malvada: "Não tem nada melhor que pão de queijo quente, não?". Tem, leitor, talvez tenha. Mas eu não posso escrever nesse horário. Olha as crianças aí na sala.


Comentários

Que graça de crônica! Mas a verdade, Felipe, é que descobri coisa melhor que pão de queijo, e dá até pra falar nesse horário. Trata-se do biscoito de queijo. Rapaz, é coisa do outro mundo!
Cláudia disse…
Ah, Felipe... É por estas e outras que me orgulho de ser mineira. Você sabe bem o que eu digo e o porquê disso! Beijos mineiros no seu coração!
Ana Campanha disse…
ótimo, bem descrito, bem mineiro! Adorei! Seria exatamente como eu decreveria a situação? Você roubou essa idéia da minha cabeça, mão foi?!?! hahaha!
Lucas Conrado disse…
Pra variar só um pouquinho, adorei a crônica! Sério, Felipe, não consigo me cansar de ler seus textos! Tenho aqui em casa o Coisas Simpáticas da Vida, que voce me recomendou num e-mail que me mandou. Valeu muito a pena eu ter ouvido seu conselho, é meu livro favorito!!!

Felipe, eu quero um MAIS COISAS SIMPÁTICAS DA VIDA!
Douglas Porto disse…
Ótima Crônica felipe...
Aposto que muitos mineiros vão ler isso e pensar : nossa porque não pensei nisso antes e escrevi sobre isso?!
Sam Green disse…
Nossa, por que não pensei nisso antes e escrevi sobre isso?! kkkk.

Me deu uma fominha de pão de queijo agora! kkk.

Que saudade da minha terrinha natal!

Maravilhosa crônica, Felipe. Fiquei ainda mais saudosista.
Teresa disse…
Eu queria era o endereço da casinha...

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