PUSHING DAISIES >> Carla Dias >>

Eu ando romântica... As minhas amigas andam tão românticas quanto, assim como um par de amigos. Andamos nostálgicos, na verdade, trazendo para hoje a lembrança da época em que líamos contos de fadas, e havia príncipes e princesas... E vilões... E situações surreais.

Hoje, tiramos os contos de fadas da cartola e os transformamos em desejo... Os príncipes são bem parecidos com os moços que conhecemos, assim como as princesas com as moças, esquecendo os excessos de finais felizes e maldades de madrastas, claro. Mas não há matemática que dê jeito no resultado. Não podemos somar um + outro e fazer com que dê certo, sabe? Então, é apenas o desejo de que, em algum momento, as peças se encaixem.

Na minha vida, as coisas se misturam. Nem sempre a realidade reside onde deveria, ou o meu imaginário dá sossego na reunião do trabalho. Sou uma pessoa misturada que só, que permite que seus universos colidam e fica assistindo ao feito. Às vezes, isso me provoca uma sensação de bem-estar intraduzível; em outras, faz com que eu não tenha vontade de levantar da cama. Mas o que é inquestionável é que essa tendência à orgia emocional também me mantém capaz de lidar com a vida.

Livros me emocionam, assim como canções, filmes, e por aí vai. Permito que aquilo que aprecio lapide a pessoa que sou. Permito que entre e modifique o meu dentro. É por isso que vivo escrevendo sobre arte... A arte é minha companheira de viagem. Minha psicanalista. Ela me endoidece e também me cura.

Uma série de TV que estreou recentemente é que vem pontuando esse romantismo em mim. Pushing Daisies é comédia romântica em pílulas de 40 minutos e dividida em episódios. Tragicomédia, às vezes eu acho, porque tem esse quê platônico que desespera um pouco, mas é tanto benquerer que desarma o telespectador.

Ned (Lee Pace) descobriu, ainda criança, que ao tocar uma pessoa morta ela voltaria à vida, e que se a tocasse novamente, ela morreria e dessa vez sem volta. Um segundo toque em nada ajudaria.

Com o tempo, ele também se deu conta de outra peculiaridade sobre sua habilidade: ao tocar alguém morto e trazê-lo à vida, passado um minuto do feito, outro ser vivo morreria no lugar dessa pessoa.

Adulto, abriu uma loja especializada em tortas que levam frutas reavivadas por seu toque, o que as tornam ainda mais saborosas.

Um detetive particular, Emerson Cod (Chi McBride) descobre o segredo de Ned e o convence a se associar a ele. Então, Ned passa a ressuscitar mortos para descobrir quem os matou, assim ele e Emerson resolvem o os crimes e faturam as recompensas.Tudo seguia relativamente em paz, até que Ned teve de ressuscitar Charlotte “Chuck” Charles (Ana Friel), sua paixão de infância, e não teve coragem de tocá-la e devolvê-la à morte.

E há as presenças impagáveis de Olive Snook (Kristin Chenoweth), funcionária loja de tortas e apaixonada por Ned, e das tias de Chuck, Vivian (Ellen Greene) e Lily (Swoosie Kurtz), uma dupla de ex-nadadoras de nado sincronizado.

A narração de Jim Dale dá um toque especial à trama. Na verdade, ela nos guia como se estivéssemos lendo um livro.

O que há de mais fantástico em Pushing Daisies é o cenário que lembra muito as viagens de Tim Burton (Ed Wood/A Noiva-Cadáver) e o roteiro com diálogos bem construídos. Se por um lado a morte é vedete na história desses personagens, as cores, as situações extravagantes, os exageros, as feições são detalhes que tornam a trama sutil, de uma leveza agradável.

Afinal, como seria amar alguém e não poder tocá-lo? Como seria conviver com a idéia de que ao tocar aquele que se ama ele morreria na hora?

Chuck passa a viver com Ned na casa dele e a trabalhar na loja de tortas. A presença dela não só reaviva a paixão de infância, como também alimenta um amor bem peculiar. Sem poder se tocarem, Ned busca formas de compensar Chuck, como quando ela quase cai e ele se afasta ao invés de segurá-la... Outra pessoa o faz, e ele fica morrendo de ciúme do outro por tê-la tocado. Mas de uma forma muito bacana, ele não só arruma um jeito de segurá-la, em outro momento, mas também de dançar com ela.

O amor deles só não é platônico de tudo porque, quando criança, eles trocaram o primeiro beijo. É essa a lembrança que um tem do toque do outro. É essa inocência que bate de frente com as vontades adultas, os desejos de amantes.

Pushing Daisies nasceu da inspiração de Bryan Fuller, também criador de duas outras séries já canceladas, mas que eu adorava: Dead Like Me, que contava a história de uma jovem que morre e tem de se juntar a um grupo muito estranho ceifadores de almas; e Wonderfalls, no qual objetos inanimados criam vida e falam com a protagonista, até que ela resolva os problemas alheios. Em Wonderfalls, Lee Pace interpretava o irmão da protagonista. Bryan Fuller também é um dos roteiristas da série Heroes.

Sugiro aos que, ao lerem esta crônica, se sentiram tentados a embarcar nesse conto de fadas moderno, que se entreguem a este desejo. Nesse balaio de Pushing Daisies não há somente morte e recompensas em dinheiro... Há uma porta aberta para espiarmos, de perto e sem receio de nos sentirmos tolos, mas prontos para isso, a vida.


Pushing Daisies
Warner Channel
Horários
Quinta (21h00/00h00); sexta (13h00); domingo (21h00); segunda (01h00).

www.carladias.com

Comentários

Paula Pimenta disse…
Fiquei supercuriosa! Não conhecia essa série, e eu adoro séries!

Sobre essa frase que você escreveu: "como seria amar alguém e não poder tocá-lo?" Ihh.. isso acontece tanto na vida real também... :)
Oi, Carla! Se a vida estivesse me dando algum tempinho, :) eu cairia em frente a uma TV, pois adorei o tom da série introduzida pelo sempre gostoso tom da sua prosa.
Carla Dias disse…
Paula: Sei que, na vida real, essa distância entre os que se amam existe. Mas o que mais me endoidece nessa série é que eles se amam, trabalham e moram juntos, dormem no mesmo quarto... Acho que assim fica mais difícil : )

Eduardo: Ah, espero que, dia desses, esse tempinho apareça. Essa série é uma delícia de assistir!

Bjs!
Amor amor disse…
Carla, assisti a todos os episódios da 1ª temporada, e já estou ávida pela 2ª. Desde que vi a chamada da série na TV, eu decidi acompanhar e não perder nenhum episódio. Me identifiquei com esse tal de "não poder tocar", porque vivi uma linda história de amor com um rapaz que nunca beijei. Essa história durou 4 anos, e só terminou porque ele quis. Bem, ele não é o Ned. Por um lado, isso é bom, porque um dia tornaríamos nossos desejos realidade. E por outro, ruim, porque ele não teve o espírito romântico-persistente-sonhador assim como eu tive...fazer o quê?
Fiquei viciada em "Pushing daisies", porque me traz de volta as sensações do amor à distância, que eu sei bem como é, e ao mesmo tempo, acho tão difícil explicar...

Beijos doces cristalizados!!! ;o)

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