PUSHING DAISIES >> Carla Dias >>

Hoje, tiramos os contos de fadas da cartola e os transformamos em desejo... Os príncipes são bem parecidos com os moços que conhecemos, assim como as princesas com as moças, esquecendo os excessos de finais felizes e maldades de madrastas, claro. Mas não há matemática que dê jeito no resultado. Não podemos somar um + outro e fazer com que dê certo, sabe? Então, é apenas o desejo de que, em algum momento, as peças se encaixem.
Na minha vida, as coisas se misturam. Nem sempre a realidade reside onde deveria, ou o meu imaginário dá sossego na reunião do trabalho. Sou uma pessoa misturada que só, que permite que seus universos colidam e fica assistindo ao feito. Às vezes, isso me provoca uma sensação de bem-estar intraduzível; em outras, faz com que eu não tenha vontade de levantar da cama. Mas o que é inquestionável é que essa tendência à orgia emocional também me mantém capaz de lidar com a vida.
Livros me emocionam, assim como canções, filmes, e por aí vai. Permito que aquilo que aprecio lapide a pessoa que sou. Permito que entre e modifique o meu dentro. É por isso que vivo escrevendo sobre arte... A arte é minha companheira de viagem. Minha psicanalista. Ela me endoidece e também me cura.
Ned (Lee Pace) descobriu, ainda criança, que ao tocar uma pessoa morta ela voltaria à vida, e que se a tocasse novamente, ela morreria e dessa vez sem volta. Um segundo toque em nada ajudaria.
Com o tempo, ele também se deu conta de outra peculiaridade sobre sua habilidade: ao tocar alguém morto e trazê-lo à vida, passado um minuto do feito, outro ser vivo morreria no lugar dessa pessoa.
Adulto, abriu uma loja especializada em tortas que levam frutas reavivadas por seu toque, o que as tornam ainda mais saborosas.


A narração de Jim Dale dá um toque especial à trama. Na verdade, ela nos guia como se estivéssemos lendo um livro.
O que há de mais fantástico em Pushing Daisies é o cenário que lembra muito as viagens de Tim Burton (Ed Wood/A Noiva-Cadáver) e o roteiro com diálogos bem construídos. Se por um lado a morte é vedete na história desses personagens, as cores, as situações extravagantes, os exageros, as feições são detalhes que tornam a trama sutil, de uma leveza agradável.

Chuck passa a viver com Ned na casa dele e a trabalhar na loja de tortas. A presença dela não só reaviva a paixão de infância, como também alimenta um amor bem peculiar. Sem poder se tocarem, Ned busca formas de compensar Chuck, como quando ela quase cai e ele se afasta ao invés de segurá-la... Outra pessoa o faz, e ele fica morrendo de ciúme do outro por tê-la tocado. Mas de uma forma muito bacana, ele não só arruma um jeito de segurá-la, em outro momento, mas também de dançar com ela.


Sugiro aos que, ao lerem esta crônica, se sentiram tentados a embarcar nesse conto de fadas moderno, que se entreguem a este desejo. Nesse balaio de Pushing Daisies não há somente morte e recompensas em dinheiro... Há uma porta aberta para espiarmos, de perto e sem receio de nos sentirmos tolos, mas prontos para isso, a vida.
Pushing Daisies
Warner Channel
Horários
Quinta (21h00/00h00); sexta (13h00); domingo (21h00); segunda (01h00).
www.carladias.com
Comentários
Sobre essa frase que você escreveu: "como seria amar alguém e não poder tocá-lo?" Ihh.. isso acontece tanto na vida real também... :)
Eduardo: Ah, espero que, dia desses, esse tempinho apareça. Essa série é uma delícia de assistir!
Bjs!
Fiquei viciada em "Pushing daisies", porque me traz de volta as sensações do amor à distância, que eu sei bem como é, e ao mesmo tempo, acho tão difícil explicar...
Beijos doces cristalizados!!! ;o)