DESCANSANDO EM MOVIMENTO >> Eduardo Loureiro Jr.
Um barulho repentino em meu ouvido esquerdo. Olho para o lado e vejo uma bicicleta e dois corpos caídos ao lado da avenida: uma máquina, um homem e uma criança. Eu, um homem sentado em frente a uma máquina e assustado feito uma criança: barulho e imagem. As coisas paradas têm uma dramaticidade que dá medo.
O pai se levanta, a bicicleta ainda caída, e ajuda a menina:
— Isso acontece, filha.
Levanta agora a bicicleta — de correia fora da catraca — e continua:
— Foi só um pouco de areia na pista molhada.
O pai ajeita na catraca a correia, a filha retira do corpo a areia. Os dois seguem seu movimento.

Nem barulho no meu ouvido, nem drama na minha mente. Lembro de minha sobrinha — por que não dizer "filha"? — e meus olhos ficam nublados de saudade.
Quando passa um caminhão, a madeira leve da cabine da lan house treme, e eu a seguro com os joelhos de minhas pernas abertas. Caminhei dois ou três quilômetros até aqui. No centro de Parnaíba, uma brecha para o mundo: mensagens dos amigos, mensagens dela... motivos, movimentos de saudade.
Uma crônica por fazer, um banho por tomar, uma estrada a percorrer, uma cidade pra voltar, gente pra abraçar e beijar.
Penso em fazer literatura, e só me vêm estas palavras de um recém-adolescente descobrindo o mundo. O mundo dentro do mundo dentro do mundo dentro do mundo. Não, isso era no tempo em que eu pensava que tudo era difícil. Agora é assim: o mundo fora do mundo fora do mundo fora do mundo. As coisas são tão fáceis que assustam: há sempre uma lan house, um caminho, um veículo, uma cidade, uma pessoa, um amor... UM. A vida se dá pra gente de presente. O embrulho é só pra divertir, embelezar, ver com a imaginação antes do objetivo olhar.
O pai e sua filha já vão longe. Ele pedalando com mais cuidado pela segurança de sua menina, ou talvez esquecido: já passou, já passou. Ela contando pra mãe, que fica preocupada; talvez mais tarde conte pras amigas, feito uma aventura e seus perigos, enquanto as palavras de seu pai cozinham guardadas no silêncio do seu coração: "Acontece, filha. Foi a areia na estrada molhada."
Foi, em meu olho, um cisco. E aconteceu uma lágrima.
O pai se levanta, a bicicleta ainda caída, e ajuda a menina:
— Isso acontece, filha.
Levanta agora a bicicleta — de correia fora da catraca — e continua:
— Foi só um pouco de areia na pista molhada.
O pai ajeita na catraca a correia, a filha retira do corpo a areia. Os dois seguem seu movimento.

Nem barulho no meu ouvido, nem drama na minha mente. Lembro de minha sobrinha — por que não dizer "filha"? — e meus olhos ficam nublados de saudade.
Quando passa um caminhão, a madeira leve da cabine da lan house treme, e eu a seguro com os joelhos de minhas pernas abertas. Caminhei dois ou três quilômetros até aqui. No centro de Parnaíba, uma brecha para o mundo: mensagens dos amigos, mensagens dela... motivos, movimentos de saudade.
Uma crônica por fazer, um banho por tomar, uma estrada a percorrer, uma cidade pra voltar, gente pra abraçar e beijar.
Penso em fazer literatura, e só me vêm estas palavras de um recém-adolescente descobrindo o mundo. O mundo dentro do mundo dentro do mundo dentro do mundo. Não, isso era no tempo em que eu pensava que tudo era difícil. Agora é assim: o mundo fora do mundo fora do mundo fora do mundo. As coisas são tão fáceis que assustam: há sempre uma lan house, um caminho, um veículo, uma cidade, uma pessoa, um amor... UM. A vida se dá pra gente de presente. O embrulho é só pra divertir, embelezar, ver com a imaginação antes do objetivo olhar.
O pai e sua filha já vão longe. Ele pedalando com mais cuidado pela segurança de sua menina, ou talvez esquecido: já passou, já passou. Ela contando pra mãe, que fica preocupada; talvez mais tarde conte pras amigas, feito uma aventura e seus perigos, enquanto as palavras de seu pai cozinham guardadas no silêncio do seu coração: "Acontece, filha. Foi a areia na estrada molhada."
Foi, em meu olho, um cisco. E aconteceu uma lágrima.
Comentários
Que primor de sensibilidade tu tens...
Beijo enorme.
continue de olho na estrada e mãos no teclado, remetendo pra nós sua ternura e sua arte.
Por mais que tenhamos cuidado n�o escapamos da "areia molhada". Quanto as l�grimas, com cisco ou sem cisco elas fluem sem a gente querer.Boa sorte!
Marisa, tenho certeza de que seus movimentos refletem luz.
Debora, sua lágrima é um grande prêmio pras minhas palavras.
Albir, a gente escreve melhor de frente para uma janela. Grato por me lembrar disso. :)
É, Dil, o negócio é encher-me de coragem e pedalar. Foi muito bom vê-la em sua casa aconchegante e tomar aquela cajuína deliciosa.