O MEU CARNAVAL >> Carla Dias >>

Estive fora do ar neste carnaval. Tranquei-me em casa, despachei fantasia, descartei pierrôs. Não sintonizei desfiles, sequer ousei cantarolar o som dos tamborins. Protegi-me dos dias de sol e dos dias de chuva; o teto cobrindo, as paredes abraçando. Vez ou outra, aquecida pelo café fresco.

Cavouquei fantasias neste carnaval, mas foi longe dos salões. As marchas estavam mudas que só! Ninguém cantou em uníssono, e dei replay naquela canção do Led Zeppelin, até a exaustão. Um misto de satisfação e falta.

Não sambei neste carnaval. Sentei-me em frente ao computador, comprometida que só com a minha tarefa, e reli as aventuras e desventuras dos personagens que criei e que, assim como eu, jamais saem para a farra do carnaval ou catam cacos na quarta-feira de cinzas. Os tambores, para eles, são os dos rituais de passagem. E exorcizam a si mesmos a cada segundo, determinados a não caberem nos confetes e dispostos a defenderem suas máscaras.

Cada qual com o seu deslumbramento.

Sumi do mapa, neste carnaval. Quem me procurou, não encontrou, mesmo chegando à minha presença. Estive fora, de tão dentro de mim estava. E a festa neste dentro não era para colombinas, não trafegavam em suas ruas os carros alegóricos. A porta-bandeira descansava os pés em bacias com água morna; o estandarte repousando em seu colo. O mestre-sala declamava os poemas preferidos dela, num ritmo cadenciado que não era o do samba-enredo, mas sim aquele que contava sobre a beleza do que vem depois da festa.

Forjei delícias, neste carnaval. Joguei o olhar pela janela e ele fisgou a lonjura dos desejos em pauta. Desembestou, esse meu olhar, a apaixonar-se pela ausência, feito papel em branco a se comprometer com alguma trama. Criasse um desalinho, quem sabe, esse meu olhar flertaria com as realizações mais frágeis, aquelas que guardam, a tantas chaves e mistérios, a maciez da tez da felicidade.

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