O MEU CARNAVAL >> Carla Dias >>

Cavouquei fantasias neste carnaval, mas foi longe dos salões. As marchas estavam mudas que só! Ninguém cantou em uníssono, e dei replay naquela canção do Led Zeppelin, até a exaustão. Um misto de satisfação e falta.
Não sambei neste carnaval. Sentei-me em frente ao computador, comprometida que só com a minha tarefa, e reli as aventuras e desventuras dos personagens que criei e que, assim como eu, jamais saem para a farra do carnaval ou catam cacos na quarta-feira de cinzas. Os tambores, para eles, são os dos rituais de passagem. E exorcizam a si mesmos a cada segundo, determinados a não caberem nos confetes e dispostos a defenderem suas máscaras.
Cada qual com o seu deslumbramento.
Sumi do mapa, neste carnaval. Quem me procurou, não encontrou, mesmo chegando à minha presença. Estive fora, de tão dentro de mim estava. E a festa neste dentro não era para colombinas, não trafegavam em suas ruas os carros alegóricos. A porta-bandeira descansava os pés em bacias com água morna; o estandarte repousando em seu colo. O mestre-sala declamava os poemas preferidos dela, num ritmo cadenciado que não era o do samba-enredo, mas sim aquele que contava sobre a beleza do que vem depois da festa.
Forjei delícias, neste carnaval. Joguei o olhar pela janela e ele fisgou a lonjura dos desejos em pauta. Desembestou, esse meu olhar, a apaixonar-se pela ausência, feito papel em branco a se comprometer com alguma trama. Criasse um desalinho, quem sabe, esse meu olhar flertaria com as realizações mais frágeis, aquelas que guardam, a tantas chaves e mistérios, a maciez da tez da felicidade.
Imagem: www.worth1000.com
by Onanymous - http://onanymous.blogspot.com
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