MARGARINA EM EXTINÇÃO -- Paula Pimenta

Todos os dias, recebo em meu e-mail dezenas de textos encaminhados, todos manjados, antigos, mas que continuam circulando pela internet. Poucos me interessam, mas hoje recebi um que sempre que aparece no meu Outlook, eu não resisto a fazer uma nova leitura. Ele, juntamente com outros dois que eu também não deleto sem reler, trata de uma 'doença' da atualidade: a revolta feminina frente aos novos papéis que a mulher acumulou de umas décadas pra cá.

O primeiro desses e-mails (e o que eu mais gosto) se chama "Desabafo de uma mulher moderna". Nele, uma executiva se mostra insatisfeita com as feministas do passado por terem nos privado do direito de ser a "rainha do lar" e nos colocado na guerra que é a vida da mulher moderna.

O segundo se chama "Bunda Mole". Este é bem engraçado e fala da revanche de uma mulher que foi chamada de 'preguiçosa' pelo marido.

O terceiro deles - "Eu me rendo" - é sobre o dever que as mulheres atualmente têm de se equilibrar como dona de casa, trabalhadora, mãe, amante, e a incompatibilidade de exercer todas estas funções ao mesmo tempo.

Por coincidência, estou lendo um livro em inglês (Swapping lives - Jane Green), em que a diretora muito bem sucedida de uma revista de sucesso, que vive uma vida de glamour em Londres, sonha em trocar tudo por filhos, marido e uma vida no campo. Ou seja, a idéia de querer voltar no tempo não é privilégio das brasileiras.

Acho que esse assunto daria muito mais do que uma crônica. Na verdade, penso que parte dos problemas atuais do mundo têm base na emancipação feminina e em como as pessoas ainda não se adaptaram à ela.

Antigamente (e nem tão antigamente assim), como as mulheres não trabalhavam fora, tinham mais tempo para os filhos e com isso acompanhavam de perto a moldagem do caráter deles, interferiam, ensinavam... dessa forma as pessoas cresciam com mais raízes, com mais solidez. Ando meio assustada com as crianças e adolescentes de hoje em dia. Muitos valores se perderam e o que se vê agora são jovens revoltados, avançados para a idade, liberais demais... e são eles que vão comandar o mundo daqui a uns anos.

É raro encontrarmos uma família sólida atualmente, e isso também se dá por causa dessa emancipação. A mulher não depende mais do pai, nem do marido, e com isso se sente no direito de procurar uma vida melhor, se aquela de casada não a estiver agradando. Os homens estão perdidos, antes eles eram os provedores, agora muitas mulheres ganham mais, sustentam a casa e isso gera uma disputa (até inconsciente) pelo poder, o homem tenta exercer a função que antes era da mulher, a mulher acha que ele não a exerce direito e faz tudo de novo, o marido se revolta com isso...

Também nos outros setores, tarefas antes consideradas masculinas, como trocar um pneu, dirigir um táxi (ônibus, caminhão), ser policial, estão sendo feitas por mulheres, e isso ainda não foi bem assimilado pela sociedade. As mulheres já fazem tudo que o homens fazem, mas ainda são mal vistas se agem como eles em alguns campos, como tomar a iniciativa na paquera ou dormir junto em um primeiro encontro.

A competitividade do mercado dobrou, antes só os homens participavam dela, agora mulheres disputam com eles (e entre si) postos cada vez mais altos, qualificações são cada vez mais necessárias e, com isso (novamente), menos tempo para a vida familiar.

Além disso tudo, há também o que já foi dito nas crônicas que citei. Nossa sociedade exige cada vez mais que as mulheres sejam magras, malhadas, bem-cuidadas e também que trabalhem muito e dêem conta de tudo. O que gera é essa revolta geral, das mulheres que se sentem exploradas, e dos homens que se sentem excluídos. As famílias de comercial de margarina (onde os integrantes são bonitos, felizes, unidos e saudáveis) estão em extinção.

Na minha opinião, o que aconteceu foi um exagero. Não acho nada errado em mulheres trabalharem, muito pelo contrário, acho que eu não agüentaria ficar só cuidando da casa e ter que pedir dinheiro para qualquer necessidade. Mas também não acho saudável esse acúmulo feminino de tarefas. O ideal seria um meio-termo, um meio-horário, trabalhar meio-período fora e, no restante do dia, cuidar da família.

Se me perguntarem o que eu gostaria de estar fazendo daqui a dez anos, nem preciso pensar para dizer que adoraria ter em minha casa uma sala de música-escritório, para poder dar minhas aulas e escrever, durante o tempo em que meus filhos estivessem na escola e meu marido no trabalho. Mas o lugar onde eu realmente devo estar em 2018 é em algum escritório fechado, trabalhando umas 10 horas por dia em algum trabalho burocrático depois de ter me matado de estudar para algum concurso, e com isso não ter família alguma por ter aberto mão da minha vida pessoal.

Alguém tem que parar de destruir os nossos sonhos imediatamente. Ou não vamos mais parar de receber e-mails de mulheres revoltadas.

Comentários

Anônimo disse…
Paula, particulamente não conheço a última mensagem citada que circula pela Internet. Acho todas de um humor sarcástico, estilo: Colhe o que plantas...risos. Apesar de ver tudo isso como uma insatisfação natural da humanidade. O mais assustador é sua penúltima frase. Se ninguém parar de destruir nossos sonhos, então, socorro! Precisamos urgentemente aprender a construir mais deles.
Sua crônica alimenta a minha esperança de que chegaremos num equilíbrio. :)
Anônimo disse…
Parabéns!!! Belo seu texto, nos faz rever muitos conceitos e pensar melhor no que realmente queremos.
Obg pela reflexão...


Bjoss ;-)

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