QUANTOS ESTAVAM LÁ? >> Whisner Fraga

ele me perguntou o que eu tinha escutado.

eu tive medo quando ele me perguntou, porque pareceu que ele queria que eu respondesse:

"nada".

eu estava com medo porque as coisas podiam ser mal interpretadas e, se essa nova interpretação dos fatos chegasse ao conhecimento de meus pais, não seria bom.

o menino ao meu lado tremia um medo maior do que o meu.

eu devia a verdade a ele. "carvãozinho."

o diretor: "repete."

"carvãozinho."

depois ele falou "quem chamou o menino de carvãozinho?"

entreguei um nome. o de quem gritou carvãozinho primeiro.

o diretor suspirou e eu achei que era porque estava com uma decisão difícil para tomar. não devia ser difícil, mas era.

"tem certeza que foi o jonas? ele não é disso."

o jonas era de uma família tradicional. "tradicional". foi o termo que o diretor usou.

o diretor mandou:

"saiam."

e não se falou mais nisso.

Comentários

Albir disse…
Inquéritos devem proteger o "cidadão de bem". Na escola ou na delegacia.
Sandra Modesto disse…
Proteção aos "de bem" e castigo voltando como se isso fosse educar. Tristes e sombrios tempos. Parabéns pelo texto.
Zoraya Cesar disse…
Impressioante como o seu título é tão impactante quanto o texto. Simples, objetivo, inteiro. E sem entregar o ouro. Mais um Texto com T maiúsculo, Whisner
Cristiana Moura disse…
Eis que é assim... verdade triste e texto potente!

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