PROCURA-SE >> Sergio Geia
Prédio da minha mãe.
Um papel
colado no elevador diz, em linhas gerais, que um morador do bloco C (conclusão
derivada da localização dos objetos), rotineiramente (duas a três vezes por
semana), utiliza preservativo e descarta não só a embalagem, como o próprio,
usado, pela sacada/janela do apartamento, nas áreas comuns. Que a situação está
acontecendo há alguns meses e expondo não só os colaboradores da limpeza, mas
também os moradores, crianças e visitantes, que são constrangidos e obrigados a
conviver com tamanho desrespeito. Que tal atitude infringe diversas normas do
condomínio e, para que sejam tomadas as medidas cabíveis, é indispensável
identificar o infrator. Que por essas razões, a administração do condomínio
solicita aos condôminos que caso alguém tenha visto o triste episódio, saiba ou
desconfie de alguém, que denuncie.
Leio uma,
duas, três vezes.
Instigo minha
mãe a contar detalhes do babado. Diz que o sujeito está sendo procurado, como
um criminoso, ela acrescenta; que há algumas desconfianças, mas certeza
nenhuma; que os moradores estão indignados; que onde já se viu uma coisa
dessas, num pacato prédio de moradores pacatos.
Histórias de
condomínios.
Gostaria de
ser um mosquitinho, sobrevoar alguns, colher coisas interessantes. Se você mora
em condomínio deve ter lá suas histórias. Aqui, outro dia, apareceu um papel no
elevador (sempre ele), pedindo aos moradores que evitassem fazer “barulhos
desagradáveis” no interior de seus apartamentos; que esses barulhos estavam
constrangendo a vizinhança, que estavam incomodando e coisa e tal. Já ouvi
vizinho se incomodando com batuque de salto alto no andar de cima, com música,
festas.
Aspirador de
pó trabalhando não há igual. Liquidificador? O assovio da panela de pressão?
Para mim, barulhos desagradabilíssimos. Música alta? Depende. Se for Maria Gadú,
Caetano, Chico, ou mesmo Oasis cantando Wonderwall?
Para mim, um enorme prazer. Condômino cantando no banheiro, tipo Dusek? (“Cantando
no banheiro, berrando no chuveiro, ah, eu não abro”) Desagradável, a menos que
seja um tenor, um Giancarlo em Para Roma
com amor. Mas há tantos. Gritaria, briga de casal, choro de criança, obra,
furadeira, latida de poodle. Viu como
é difícil a vida de síndico?
Mas esses
barulhos ditos “desagradáveis” eu via ainda muito no campo das abstrações, da
subjetividade, nada tão concreto como uma camisinha usada voando pela janela. O
mais interessante desses inconvenientes de condomínio talvez seja compreender o
processo criativo na elaboração do aviso aos condôminos: como colocar no papel?
Encontrei pérolas:
“Diante das
reclamações realizadas pela construtora responsável pelas obras em frente ao prédio,
e dos moradores da coluna 8, solicito que evitem jogar pelas janelas quaisquer
objetos, tais como: pontas de cigarro, bolas de miolo de pão, cabos de
vassoura, dentre outros”.
“A vizinha
da casa ao lado, em retaliação aos constantes aborrecimentos por encontrar
fezes de cachorro em seu quintal que, segundo ela, são jogadas pelos moradores
do nosso condomínio, jogou para o lado do condomínio uma sacola com o mesmo
conteúdo (fezes) sendo de humanos. Não aprovo tal atitude, mas devemos
reconhecer que paciência tem limite, portanto, peço mais uma vez aos senhores
condôminos possuidores de animais domésticos, que depositem as fezes de seu pet
em local adequado, ou seja, no lixo”.
“Caros, para
que possamos ter uma convivência harmônica com todos, peço que na hora da
relação sexual atentem-se à cama, ela pode estar batendo na parede (pensando
nos vizinhos ao lado) ou no chão (pensando nos vizinhos de baixo), incomodando
e acordando pessoas que não estão interessadas em saber de suas relações
sexuais. Todos os moradores devem respeitar a lei do silêncio que começa a
valer a partir das 22 horas.”
Não sei se é
verdade, mas tiro o meu chapéu para este:
“Prezados
condôminos. Sem qualquer caráter de sensacionalismo nem tampouco, alarmismo,
terrorismo ou tumulto, mas sim, o cumprimento de informar a população pela qual
sou responsável, divulgo a notícia com o teor abaixo: o vidente Juscelino
Nóbrega da Luz registrou em cartório, cópia anexa, correspondência informando
que no dia 26 de novembro próximo futuro, um avião irá chocar-se com um
edifício (Avenida Paulista x Al. Campinas, próximo ao Maksoud Plaza). Fico com
a gostosa sensação de dever cumprido. Deixo a decisão de tomadas de
providências a cada um responsável pela suas equipes de trabalho e com o firme
propósito de que o vidente tenha se equivocado em sua premonição.”
Comentários
Serio, você e suas crônicas minimalistas. Vc é um mosquitinho sim, consegue ver detalhes e depois descrevê-los à perfeiçao, para nosso deleite.
E aproveito para me penitenciar, há um tempo estou afastada, entao, com atraso, mas de coraçao: FELIZ ANIVERSÁRIO!! que os fluidos positivos se espalhem e perpetuem por todo esse novo ano! Beijos mil