ELÃ >> Carla Dias >>
Eu não sei, meu bem, confessar a dor de reconhecer a dor. Nem jogar videogame, virar cambalhota, dormir sem cobertor. Eu sou assim, assim, e me perdoe se o meu ser não é o melhor ser que eu poderia ser.
Houve dia em que eu sabia mais, era letrada em anúncios promocionais de amores vãos. Assim vivia em companhia de quem nem sempre me queria bem ou aquecia o meu coração. E o meu é dos contraditórios. Bate de um jeito que já tentei identificar, usei até metrônomo, mas não. Esse coração se descompassa à toa, como quando você diz palavras que desejo fisgar da sua boca.
Eu não sei, meu bem, verbalizar o sentimento que me rende. Nem falar outro idioma que o complemente. Sorrir à toa e à toa ceder a vez ao inusitado. Não sei partir para não mais voltar. Por isso aqui permaneço, que até pareço enfeite do tempo.
Eu não sei, meu bem, varrer o chão do cativeiro das lembranças. Nem cozinhar, escolher par, andar pela vizinhança como quem conhece cada um de cada casa. Eu sou uma coletânea de poemas não escritos. Um vendaval desmanchando as garras de um abismo. Não sei esperar pacientemente pelo que será.
O que será?
Se eu não aprender a varrer afeto pra debaixo do tapete, enquanto assovio uma canção de amor em ritmo de repente, só para irritar meu coração que faz de conta que é displicente, enquanto se importa imensamente com você.
De repente, meu bem, a vida fica mais silente. Nem canções, tampouco flores são capazes de enfeitar a solidão. A gente brinca de ser feliz pra ver se, de repente, a felicidade se compadeça da nossa dedicação... E nos alimente. A boca inundada de palavras quase fisgadas, a alma inspirando o que o corpo sente.
Imagem © Heinrich Vogeler
carladias.com
Comentários
Que "a felicidade se compadeça de nossa dedicação"!
Eduardo... Dói não...
Mozart... Obrigada e volte sempre.
Albir... Obrigada.
Zoraya... Ser impossível é mais divertido :)
Anônimo... Olha que eu gostei de ter um fã anônimo ;)