SUPER-HOMEM TRAPALHÃO
>> Eduardo Loureiro Jr.

Meu pai, minha mãe, eu e Tia MoncaEm mim mora a memória de minha mãe e de minha Tia Monca. Elas que, quando eu era pequeno, gostavam de me levar ao cinema.

Lembro de minha mãe me levando para ver Super-homem, o filme. E de assistir a Os Trapalhões no Planalto dos Macacos com Tia Monca.

A fila dobrava a esquina do Cine Diogo, em Fortaleza, que hoje já nem existe mais. Depois de mais de hora de fila, só conseguimos um lugar na primeira fila, forçando o pescoço para ver o Super-homem na tela bem próxima. Já no Cine São Luiz, também em Fortaleza — o mais bonito dos cinemas em que já entrei, e que ainda existe — ficamos também na primeira fila, só que de um balcão no primeiro andar.

Naquela época, os filmes eram apenas diversão, mas hoje, olhando para trás, fica claro que era mais que isso. Os filmes revelam o tipo de relação que fui desenvolvendo com minha mãe e com Tia Monca.

Para minha mãe, sempre tentei ser heróico. Menino que era, incapaz de salvar a humanidade, concentrei-me em tirar boas notas e ser um menino inteligente, educado e tímido, à semelhança de Clark Kent. Cheguei mesmo a desenvolver uma pequena mecha de cabelo em forma de S que teimava em pender da minha testa, e que eu recolocava no lugar imediatamente para que ninguém soubesse de minha identidade secreta. Com o passar do tempo, fui realmente acreditando que tinha superpoderes e que poderia fazer qualquer coisa, até mesmo ressuscitar a mulher amada. Embora eu ainda não tenha sido tão bem-sucedido quanto Superman em minha missões, ficou, da minha relação com minha mãe, a fé de que tudo é possível.

O otimismo e o entusiasmo também marcam minha relação com Tia Monca, mas o clima de superprodução hollywoodiano é trocado por uma abordagem mais nordestina e coletiva. Didi, o herói, não está sozinho — aventura-se acompanhado de amigos trapalhões — e não se limita à seriedade que é típica dos salvadores do mundo, como o Super-homem. Com Tia Monca, sempre pude ser atrapalhado, sempre pude fracassar e colher insucessos sem a culpa de que o mundo ruiria se eu não estivesse ali para salvá-lo. Com ela, também aprendi que o vida não se acaba se a gente não se casa com a mocinha do filme.

Tendo minha mãe como exemplo ideal e Tia Monca como amiga inseparável, fui crescendo, aprendendo, desaprendendo, perdendo, ganhando e, muitas vezes, simplesmente empatando. Ainda hoje elas me levam ao cinema, embora não mais àquele das salas de exibição. No filme da minha vida, descobri que tenho que ser o protagonista. Elas são as guest stars, as estrelas convidadas, que frequentemente brilham mais que o ator principal.

Hoje Tia Monca faz 50 anos e a alegria que sinto é tão infantil quanto meu riso na primeira fila do balcão do cine São Luiz. Daqui a alguns dias, será minha mãe a fazer aniversário, e meu pescoço se curvará ainda mais para trás, para alcançar com a vista a sua grandeza de super-mulher.

Essas mulheres que eu tenho o privilégio de poder chamar de minhas — mãe e tia — dão humanidade ao meu super-homem e engrandecem o meu trapalhão. E agora, que lembro disso tudo, não preciso mais ficar oscilando entre um e outro, num eterno desequilíbrio. Posso me permitir — pelo amor de minha mãe e de minha Tia Monca — ser um autêntico Super-homem Trapalhão.

Comentários

Muito interessante sua crônica. Nossas vivências em família são ricos tesouros para transformações.
Parabéns pela fluência das palavras e conexão de idéias.
NE
Tia Monca disse…
Junoca querido,
Muito obrigada pela crônica, por me amar e por aceitar ser amado pela tia coruja.
Vocês são presentes maravilhosos que a vida me deu.
Que bom que você pôde estar aqui hoje! Que bom que você é sempre tão presente na minha vida!
Tia Monca
Unknown disse…
Que bonito. Estou aqui matutando sobre meus personagens na vida das minhas pessoas.
Parabéns!
Grato, Norma. :)

Bom, bom, bom, Tia. :)

Matutar faz bem, Fernanda. Keep matutating. :)
Claudia disse…
Eduardo, simplesmente lindo, aconchegante e carinhoso. Show!!!
Grato, Claudia. Gostei da combinação de adjetivos. :)
Anônimo disse…
Que delícia de crônica e de foto, Edu! Adorei!!!
Acho uma maravilha as lembranças que as pessoas queridas nos proporcionam e mais, ter essas pessoas por perto, do jeito que tem suas adoráveis tia Monca e sua mãe. Bem legal!
Parabéns à menina tia Monca pelos cinquentinha e a você pela dádiva da crônica.
Maria
Vixe Maria, Maria! :) A viagem amenizou até os comentários? Acho que você estava era estressada com o ministério, n'era? :) Brincadeirinha. Grato por ser também pessoa querida na minha vida.

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