LEITORA >> Eduardo Loureiro Jr.
Eu estou aqui. Sentado diante de uma tela que começo a preencher com palavras. Você está aí, com as palavras todas à sua frente. Se o tempo desse um descanso em sua mania de passar, você poderia me contar o que eu ainda nem sei que escrevi.
Então vamos inverter os papéis. Eu saio da frente do computador agora, me visto e desço até o jardim. Você me encontra lá, me dá um abraço — se já formos velhos conhecidos — ou então nos apresentamos ("Prazer, sou Eduardo.") e começamos a caminhar.
Enquanto nossos passos se acertam com uma música imaginária — ou mesmo real, "oh, darling, darling, stand by me" — você vai me contando a crônica que eu já — e nem ainda — escrevi.
Para aumentar minha curiosidade, você não começará falando da crônica em si. Falará de como chegou até ela clicando sobre um link do Google — ou de como espera por ela toda tarde de domingo. E depois dirá o que sente, como se sente. Falará das surpresas, dos encantos e das decepções (por que não?).
À beira de um outro jardim, você me chamará para conhecer o cheiro de uma flor que antes, para mim, só tinha cor. E me confessará que eu sou diferente do que faço transparecer na crônica. Se soprar um vento de sinceridade, você dirá mesmo que sou um tanto sem graça e que não sabe como de mim surgiram aquelas palavras tão bem ditas. Eu abrirei meu sorriso feito só de lábios — sem ousar mostrar os dentes — e você saberá que eu sei que você está certa.
— De onde vêm as palavras?
— Eu não sei.
— Mas você é um escritor!
— Eu me sinto mais como um leitor de primeira mão.
E você ficará pensando no que isso quer dizer. E, sinceramente, isso não quer dizer nada. E eu vou me lembrar da famosa carta aos coríntios: línguas e ciências desaparecerão, mas o amor... ah, o amor.
Você respirará fundo, e eu lhe olharei fundo. Você não terá mais vontade de falar sobre a crônica que escrevi, e eu não terei mais vontade de ouvir sobre a crônica que vou escrever. Ela já está escrita e eu só preciso de coragem para atravessar o rio às vezes turvo da memória.
Nós sentaremos à sombra daquela árvore que chove pequenas pétalas lilases, e nossos cabelos ficarão molhados de cor. Eu encostarei no tronco, você encostará em mim e meus dedos tocarão seu corpo como nunca tocaram nenhum teclado.
Adormeceremos ouvindo uma animada conversa de passarinhos, e sonharemos que as plantas e os bichos são gente e que nós somos leves feito o vento.
Quando acordarmos, você me procurará e eu lhe procurarei, mas não estaremos ao lado um do outro. E antes que a sempre ilusória tristeza se faça passar por verdade, você saberei, eu saberá que desde o sono somos um. Não mais ao lado, agora alados, asas de um outro ser.
Então vamos inverter os papéis. Eu saio da frente do computador agora, me visto e desço até o jardim. Você me encontra lá, me dá um abraço — se já formos velhos conhecidos — ou então nos apresentamos ("Prazer, sou Eduardo.") e começamos a caminhar.
Enquanto nossos passos se acertam com uma música imaginária — ou mesmo real, "oh, darling, darling, stand by me" — você vai me contando a crônica que eu já — e nem ainda — escrevi.
Para aumentar minha curiosidade, você não começará falando da crônica em si. Falará de como chegou até ela clicando sobre um link do Google — ou de como espera por ela toda tarde de domingo. E depois dirá o que sente, como se sente. Falará das surpresas, dos encantos e das decepções (por que não?).
À beira de um outro jardim, você me chamará para conhecer o cheiro de uma flor que antes, para mim, só tinha cor. E me confessará que eu sou diferente do que faço transparecer na crônica. Se soprar um vento de sinceridade, você dirá mesmo que sou um tanto sem graça e que não sabe como de mim surgiram aquelas palavras tão bem ditas. Eu abrirei meu sorriso feito só de lábios — sem ousar mostrar os dentes — e você saberá que eu sei que você está certa.
— De onde vêm as palavras?
— Eu não sei.
— Mas você é um escritor!
— Eu me sinto mais como um leitor de primeira mão.
E você ficará pensando no que isso quer dizer. E, sinceramente, isso não quer dizer nada. E eu vou me lembrar da famosa carta aos coríntios: línguas e ciências desaparecerão, mas o amor... ah, o amor.
Você respirará fundo, e eu lhe olharei fundo. Você não terá mais vontade de falar sobre a crônica que escrevi, e eu não terei mais vontade de ouvir sobre a crônica que vou escrever. Ela já está escrita e eu só preciso de coragem para atravessar o rio às vezes turvo da memória.
Nós sentaremos à sombra daquela árvore que chove pequenas pétalas lilases, e nossos cabelos ficarão molhados de cor. Eu encostarei no tronco, você encostará em mim e meus dedos tocarão seu corpo como nunca tocaram nenhum teclado.
Adormeceremos ouvindo uma animada conversa de passarinhos, e sonharemos que as plantas e os bichos são gente e que nós somos leves feito o vento.
Quando acordarmos, você me procurará e eu lhe procurarei, mas não estaremos ao lado um do outro. E antes que a sempre ilusória tristeza se faça passar por verdade, você saberei, eu saberá que desde o sono somos um. Não mais ao lado, agora alados, asas de um outro ser.
Comentários
Eduardo,
O que eu sei é que ainda sou uma criança, pois tenho a idade dos meus sonhos e esses não acabam nunca. E são tantos que eu, menina, esqueci de virar gente grande. E não sendo gente grande, posso dizer-lhe com a pureza da minha alma infantil: Eduardo, você faz amor com as palavras e o êxtase que elas provocam, arrebata a alma num gozo etéreo.
Qundo você escreve, suas palavras voam para seus leitores, porém você nao consegue ter a concreta percepção de quantas almas serão alcançadas(e são tantas...). O leitor que aqui chega, não vai embora sozinho. Quando se despede, sua alma está preenchida das palavras do escritor e ele já não se sente só. Acredita que você já é parte dele, seja como amigo, como irmão ou amante.
Mais uma vez, Eduardo, você foi perfeito!
bjs
Ana
Achei no mínimo deslumbrante essa idéia de colocar presente e futuro frente a frente; de namorar possíveis encontros entre quem escreve e quem lê. Emendar histórias... Ir além com a graça que, sempre, lhe é grata.
Obrigada pelo passeio. Obrigada pelas asas. Obrigada por me deixar fazer parte desta crônica-momento.
cArLa, que bom que você veio ser parte, passeio e asas. :)