AMAPÁ em CANTOS >> Carla Dias >>
As saias das dançadeiras, floridas; as caixas do marabaixo e os tambores e pandeiros do batuque. O sorriso das moças... O sorriso dos moços; suas histórias de vida. Os olhares curiosos dos transeuntes, deslumbrados pela beleza da dança, do lamento, do canto.
São Paulo pode ser cinza, por conta de seus prédios e ruas, mas se engana quem a julga distante. Ela é acolhedora e recebe, de braços abertos, a todos, criando um cenário cultural eclético, rico. E foi esta a cidade que serviu de cenário para um projeto muito peculiar e, definitivamente, uma iniciativa louvável de impulsionar o brasileiro a conhecer a pluralidade cultural do seu próprio país.
A música do Amapá visitou São Paulo, de 20 a 30 de novembro, tendo como palco o SESC Ipiranga. O projeto AMAPÁ em CANTOS teceu o fio que uniu duas culturas tão diferentes, e com a graça de quem conta uma história. Talvez por isso a presença de tantos poetas empunhando violões, cantando não só a beleza do Amapá, mas também sua importância na composição da identidade brasileira. Esse lugar que abriga grupos folclóricos de marabaixo e batuque; onde a influência africana se faz presente na música e na dança.
Tive o prazer de acompanhar de perto a idealização e a realização desse projeto. O AMAPÁ em CANTOS foi um ensinamento sobre esse povo que sabe fazer música e que abraça a poesia.
O AMAPÁ em CANTOS contou com uma programação de shows com artistas amapaenses e seus convidados, vindos de diversos cantos do Brasil, numa mistura de influências e encontro de afluentes. No Amapá nascem rock, pop, blues; a fusão de ritmos com a sua linguagem regional contempla melodias belíssimas. A energia dessa música é celebrada e cuidada, abarcada por uma inspiradora poesia.
O grupo de Marabaixo fez uma performance belíssima no jardim do SESC, no primeiro dia de evento. Depois, apresentou-se em quase todos os dias, no hall de entrada, chamando o público para assistir aos shows que aconteceriam no teatro. No penúltimo dia de evento, foi o grupo de Batuque que se apresentou no mesmo jardim.
Os encontros no palco do teatro foram emocionantes. Enrico di Micelli convidou Vicente Barreto; Patrícia Bastos convidou Vitor Ramil; Juliele convidou Celso Viáfora; Marcelo Dias convidou Nilson Chaves; Cléverson Baia convidou Ceumar; Zé Miguel convidou Vital Lima; Senzalas convidou Chico Cesar; Nivito Guedes convidou Lucina; Osmar Junior convidou Zé Renato; Naldo Maranhão convidou Pedro Osmar; Negro de Nós convidou Jean Garfunkel; Verônica dos Tambores convidou Luhli; e Ronery convidou Leci Brandão. Nilson Chaves também foi responsável pela direção artística.
Uma banda fixa foi colocada à disposição dos artistas, e devo dizer que deram um show à parte. Estive presente em algumas passagens de som e ensaios, e posso garantir que, além de músicos talentosíssimos, é um grupo de pessoas que realmente se importa em fazer um bom trabalho, colaborando com a música dos compositores e intérpretes que passaram pelo AMAPÁ em CANTOS. E não poderia deixar de citá-los: Miquéias Reis (violão/direção musical), Adelbert Carneiro (baixo/arranjos), Alan Gomes (baixo), Fabinho (guitarra), Paulinho (bateria), Néo, Pires e Rosivan (metais), Nena, Valério e Diego (percussão) e Erinho (teclado). Essa turma é muito bacana, meus caros!
Este foi um projeto que envolveu muita gente, trazendo do Amapá um grupo de quase 100 pessoas e contando com uma produção local. Foi idealizado pela Secretaria de Cultura do Amapá e realizado pela AMCAP/SECULT, o que, espero, inspire outras secretarias de cultura a seguirem esse caminho e elaborarem projetos específicos e que possam colaborar para que uma região conheça o perfil cultural do outra. A curadoria e produção local foram coordenadas pela minha amiga querida, a Drika Bourquim, pessoa que se importa muito com a qualidade da música brasileira. E aproveito para parabenizar a Andréa, o William, a Sandra, a Jussara, o Renato, o Vanderlei, o Manoel e o Nal, pessoas que encontrei no evento e sei que trabalharam para que o Amapá fosse bem recebido em Sampa.
Sugiro que visitem o site do AMAPÁ em CANTOS e saibam mais sobre o projeto e os artistas que participaram. Afinal, há muita coisa boa sendo feita por aí para não arregaçarmos as mangas e procurarmos, ao invés de apenas reclamarmos que a mídia não nos dá isso de bandeja... Vamos lá! Quem quer receber tudo de bandeja, sem aquela emoção boa de procurar e encontrar?
www.amapaemcantos.com.br
E antes tarde do que tarde demais: confesso que adorei conhecer um poeta do qual aprendi a apreciar a poesia: Joãozinho Gomes, integrante do grupo Senzalas ao lado de Amadeu Cavalcante e Val Milhomen. Quem não conhece a obra desse poeta, as canções nas quais ela figura, fica a dica.
Foto: Fernanda Serra Azul
www.carladias.com
Comentários
Deu uma peninha de não viver em São Paulo...
Albir... Obrigada, o que mais dizer?
Eduardo... Que bom que o que te ofereço é bem recebido.