AMORES MASTERCARD -- Paula Pimenta

Um amigo me contou um caso outro dia que me deixou meio indignada. Ele gostava de uma menina há tempos e a tal nunca deu bola pra ele. Ele tinha um Santana velho. Resolveu trocar o carro. Comprou um Honda. E não é que a menina passou a gostar dele no mesmo minuto? Mas o que me deixou revoltada não foi a reação dela e sim a dele! Ele ficou superfeliz por ela finalmente ter caído em seus braços, sem levar em consideração o motivo.

De uma outra vez, um outro amigo me disse que bastava contar a sua profissão para as meninas já o olharem com outros olhos. Só de saber o título. Não importava se ele era chato, mal-educado, pão-duro, ranzinza ou mulherengo. Babavam pelo que ele era por fora. Pelo status que ele tinha.

Sei que existem vários motivos que nos fazem gostar de alguém. Mas realmente eu não gostaria que alguém se interessasse por mim por causa do carro que eu tenho. Ou das roupas que eu visto. Ou pelo lugar onde eu moro. Ou por eu passar em um concurso qualquer que me dê uma profissão bem-remunerada. O carro pode ser batido. As roupas podem ficar fora de moda. Eu posso mudar de endereço. Posso machucar e ter que me aposentar. E aí? A pessoa vai gostar do meu carro amassado, das roupas ultrapassadas, da casa alugada, do meu status de aposentada precoce?

Conheço muita gente, algumas amigas inclusive, que deixam de sair com o cara se ele não tem carro ou não paga a conta. Não importa que ele seja um príncipe. Se não tem uns três cartões de crédito na carteira, perdeu a chance. Que venha o próximo que possa as abastecer de momentos dignos de comerciais de cartão Mastercard, que – diga-se de passagem – não serve pra comprar amor.

Eu gosto do meu namorado pela alegria que eu sinto quando estou junto dele e porque sei que fica o maior vazio quando ele não está perto. Gosto do jeito que ele tem de me mimar, de fazer com que eu me sinta amada, do tom de voz que ele tem, da forma com que franze as sobrancelhas quando está pensando, das brincadeirinhas que faz, pelo bom humor na maior parte do tempo, pelo amor que ele tem pela família, pela generosidade com o mundo inteiro, pela inteligência natural, pelo jeito que dorme (literalmente) em um piscar de olhos, pelo pulo que meu coração dá quando ele me liga e eu escuto a nossa música saindo do celular, pela tristeza profunda que eu sinto nas poucas vezes em que a gente discute e pelo ciúme exagerado que me deixa louca de raiva quando percebo qualquer uma se aproximar dele. Gosto dele pelo que ele tem por dentro. Ele pode ficar pobre, desistir da profissão, ter que andar de ônibus pelo resto da vida que eu vou gostar do mesmo jeito. Já a namoradinha que o meu amigo arrumou, vai embora no minuto em que 2008 acabar e aparecer um outro com um carro do (novo) ano.

Gostar de alguém pelo que a pessoa tem é ilusório. Os bens materiais que possuímos podem se perder em um segundo, o cartão de crédito tem data para expirar. Já o que somos, na essência, vai durar por toda a vida, não tem prazo de validade. Eu prefiro que meus amores sejam constantes em vez de transitórios. Um carro legal podemos conseguir por nós mesmos. Uma profissão bem remunerada basta que façamos por onde. Agora sermos amados pelo que somos, isso dinheiro nenhum pode comprar. E não adianta a Mastercard querer me provar o contrário.

Comentários

Juliêta Barbosa disse…
É por isso que vivemos uma época de ressaca amorosa...
Procuramos um amor com características próprias, ou seja, alguns quilos de carne fresca com músculos bem definidos, adornados com as grifes da moda - Versace, Louis Vuitton e Armani - e alguns adereços, certamente, adquiridos na última Fashion Week.
Parabéns Paula, por viver um amor que realmente vale a pena. O resto é transação comercial!
Cristiane disse…
Estou contigo, moça, literalmente! rs.

bjs
Anônimo disse…
Adoreiii belas palavras...

Bjos ;-)
Ângela disse…
Ainda bem que a cultura do TER deixa escapar por entre seus dedos frágeis um SER especial que pensa como você!! E, graças a Deus, tenho encontrado na minha vida PESSOAS que pensam assim também... Adorei sua crônica! Parabéns, mais uma vez!!
Estou lendo o livro que você me enviou, entre as duas mil coisas que tenho que fazer antes do dia 22/12. Mas já, já te dou notícias.]
Abração,
Ângela
Anônimo disse…
Paula,
linda a crônica, gostei muito.
Mas, ainda sou otimista em achar que as (os) interesseiras(os) são minotira nesse mundo.
Sempre me admiro quando vejo um casal, simples, muitas vezes paupéerrimo, se ajudando e rindo da vida. São esses, muitos casais desinteressados - e interessantes - que me fazem assim, otimista demais...
:)
beijos
Carla Dias disse…
É Paula...
A maioria de nós anda meio preguiçosa para gostar do outro, não? Porque precisa prestar atenção, colecionar o que mais gosta, aceitar as diferenças... Dá trabalho amar alguém! Mas sou da sua laia, minha cara: prefiro ter trabalho e, de quebra, o prazer de um amor autêntico.
Amor amor disse…
Paulinha, ameeeeiii!!! Também sou alérgica a amores Mastercard. Mas agora olha só como a vida é irônica: eu gostei de um rapaz desprovido financeiramente, e ele me aconselhou a ficar com um Mastercard, porque ele não se achava à altura. Vê se pode: quando a gente quer ser sincera, se dá mal. Mas não é por causa disso que vou mudar de opinião. Nem por causa da Mastercard, hahaha...

Beijos doces cristalizados!!! :o)
Anônimo disse…
Sensacional,Paula!

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