O PRESENTE >> Eduardo Loureiro Jr.
Ah, mãe...
Eu queria lhe dar...
Um presente que eu tenho certeza
de que você iria gostar.
Não é conjunto de panelas — você mal sabe cozinhar, embora seja uma delícia o seu miojo, sem falar no seu arroz com ovo.
Não é perfume, tampouco, porque eu sempre preferi mesmo seu cheiro, aquele que fica guardado no seu lençol com o qual eu gostava de me enrolar inteiro — quando eu era criança e até depois de velho.
Não é flor nem rosa ainda, essas eu deixo pro pai, que é romântico bem mais, e entrega pétalas com rimas.
Não é nem poema — alimento, aroma e adorno de palavras — porque faz pouco tempo que eu cantava minha mãe, minha musa, minha música.
Bem que poderia ser esse clima, em que faz sol sem deixar de fazer frio, combinação perfeita de afetuosa luz e arrepiado carinho.
Ou então essa lua, que aqui é inclinada: uma cadeira de balanço na varanda das madrugadas.
Mas não, não é.
Nem posso ser eu, o meu corpo — o presente da presença — embrulhado em abraço e com beijo por etiqueta. Eu que estou sem barba, do jeito que você gosta, e de camisa amarela brilhante: ouro do peito às costas.
Ah, mãe...
O presente que eu queria lhe dar...
Com a certeza de que você iria gostar, estava aqui até um dia desses, guardado no coração e revelado no sorriso. Mas por um descuido — eu nem sei qual — descompassou no peito e escorregou do lábio; virou insensato sobressalto ou saliva ressecada num guardanapo.
Eu tinha cá comigo o presente perfeito, que você sempre quis. O presente que toda mãe pede em cada cuidado, carão, conselho e bênção: "Meu filho, seja feliz".
Ah, mãe, eu tinha minha felicidade aqui, tão certa, prontinha para lhe dar. Mas ela — bandoleira — saiu para passear.
E na falta de minha felicidade — esse presente sensacional que eu ainda vou lhe dar —, mãe, Mainha, por favor, aceite esse presente tão antigo e repetido: o meu desembrulhado, e usado, amor.
Comentários
Você realmente sabe o que eu mais quero na vida - a felicidade dos meus filhos. Quando eu tiver a plena certeza disto, não terei mais medo de nada... nem mesmo de morrer.
Beijo.
Amo vocês.
Mais um lindo presente prá mainha!
E quando você descobrir um jeitinho de segurar a felicidade bandoleira, nos ensina, pois a minha vive saindo para passear :)
Um abraço carinhoso,
Tia Monca
Que felicidade essa, heim, tão sonhada, tão desejada, tão bandoleira.
Mas também tão certa e poderosa: "esse presente sensacional que eu ainda vou lhe dar"; "não terei mais medo de nada".
Por fim, que presente maravilhoso o que ficou pra hoje: "esse presente tão antigo e repetido: o meu desembrulhado, e usado, amor".
Beijo, encantado,
Hebinha
Não posso dizer que sou feliz - acho que seria um exagero - mas posso dizer que estou feliz. Feliz por ter um filho tão maravilhoso. Um presente de Deus.
Pois bem, você me fez perceber o quanto é importante dizer àqueles que nos querem bem que estamos felizes. Já não posso dizer isso à minha avó nem à minha mãe, pois elas se foram há mais de vinte anos. Mas amanhã vou correndo dizer ao meu pai. Acho que ele vai gostar de saber que as preces que fez foram atendidas. :)
Eu não sou mãe mas acabei recebendo, também, um presente. Obrigado, meu amigo.
Como a felicidade é uma dona desvairada, o amor faz a vez, não é? E faz muito bem...
Tia, será que a gente tem que sair pra passear com a felicidade? :)
Hebinha, seu encanto é que é certo e poderoso incentivo às minhas palavras. :)
Meu querido amigo, bom saber que estamos sintonizados no pensamento da felicidade.
Carla, você me fez pensar que o amor talvez seja o cheirinho que a felicidade deixa em casa quando sai pra passear. :)